Diário do Alentejo

Vinhos: O “sangue de Júpiter” do Alentejo

11 de junho 2021 - 16:45

Texto Manuel Baiôa

 

O Grupo Nabeiro – Delta está presente em várias áreas de negócios, mas é no café que encontramos o seu início e a sua principal atividade. Contudo, o comendador Rui Nabeiro tinha o sonho antigo de produzir vinho de qualidade na sua terra natal – Campo Maior. Assim, em 1997 iniciou-se a plantação das primeiras vinhas na Herdade da Godinha e, três anos mais tarde, na Herdade das Argamassas. A Herdade da Godinha localiza-se perto do rio Caia e tem solos de origem arenosa, com uma textura franco-arenosa. Optou-se nesta propriedade pelo encepamento tradicional alentejano: Aragonez, Trincadeira, Castelão e Alicante Bouschet nos tintos; e nos brancos, numa mistura de Roupeiro e Arinto. A Herdade das Argamassas possui um solo franco-argiloso-arenoso, com o granito como rocha mãe. Aqui houve uma aposta nas castas tradicionais referidas anteriormente, e noutras de outras regiões do país (Touriga Nacional, Verdelho) e do mundo (Syrah, Petit Verdot, Sangiovese, entre outras).

 

Um dos elementos fulcrais, e talvez o mais emblemático, no projeto dos vinhos da Adega Mayor é a sua adega. Convidou-se o arquiteto Álvaro Siza Vieira para assinar a primeira adega de autor em Portugal, que foi inaugurada em 2007. A adega eleva-se na paisagem alentejana, com um traço moderno, simples e essencial, que atrai inúmeros amantes do vinho, da arquitetura e da cultura. A Adega Mayor é dirigida atualmente pela neta do comendador, Rita Nabeiro, tendo como enólogos Rui Reguinga e Carlos Rodrigues.

 

A grande multiplicidade de castas e de solos possibilita um portefólio muito diferenciado. Na entrada de gama temos o vinho Caiado (branco, tinto e rosé), seguido pelo Dizeres (branco, tinto e rosé) e pelos vinhos Adega Mayor Seleção branco e Adega Mayor Reserva tinto. Posteriormente temos uma linha de monovarietais muito diversificada, na qual surge, entre outros, o Adega Mayor Sangiovese 2018.

 

A casta Sangiovese tem origem na Itália, derivando o seu nome do latim: ‘Jovis Sanguis’, isto é, “sangue de Júpiter”. Atualmente é a casta mais plantada em Itália, embora seja na Toscana que atinge maior popularidade e prestígio. Esta casta tem vários clones e nomes diferenciados consoante as regiões onde está plantada, em Itália. Surge em vinhos monovarietais de grande notoriedade, como o Brunello di Montalcino, na companhia de outras castas italianas nos vinhos Chianti e Nobile di Montepulciano, e nos ‘Super’ Toscanos, na companhia de algumas famosas castas francesas. O sucesso internacional destes últimos fê-la viajar para a Califórnia e para outras zonas vinícolas de prestígio do mundo, entre as quais Portugal.

 

A Sangiovese é uma casta sensível aos aumentos de temperatura, pelo que a colheita tem de ocorrer no momento ideal de maturação. O vinho fermentou em balseiro de carvalho francês de cinco mil litros e após dois terços da fermentação foi realizada a desencuba. O mosto terminou a fermentação no mesmo balseiro onde o vinho estagiou, por mais 18 meses, até ao engarrafamento para estágio.

 

Apresenta uma cor granada aberta. No nariz é delicado, com notas de cereja e flor de rosa. Na boca é leve, suave e fresco, com predomínio da componente floral e algumas notas especiadas e vegetais, num perfil muito atrativo e gastronómico. O Alentejo está associado a vinhos de grande concentração, mas este Sangiovese demonstra que também consegue produzir vinhos com álcool moderado, elegância e delicadeza. Com este perfil está especialmente indicado para o verão e para pratos leves, nomeadamente a gastronomia tradicional italiana à base de massas, risotos, pizzas e queijos duros. PVP: 15,79 euros.

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