Um total de 250 garrafas de vinho foram colocadas no fundo do mar, em Sines, onde irão “estagiar” durante um ano, numa operação que procura estudar a sua evolução, promovendo a ecologia e a economia local.
As 137 garrafas Cebolal Emerso tinto 2019 da casta Castelão e 113 garrafas Cebolal Emerso branco 2020 das castas Roupeiro, Manteúdo e Arinto foram mergulhadas a cerca de 20 metros de profundidade, na marina de Sines, num projeto promovido pela Herdade do Cebolal que começou há oito anos e já contabiliza quatro produções do vinho do Mar.
“Temos aprendido sobre as diferenças de um estágio em terra em relação ao mar. A terra tem uma evolução mais lenta com características diferentes. No caso do mar temos uma evolução mais acelerada. Se calhar um vinho que na terra tem um ano no mar evolui quase o dobro”, explicou Luís Mota Capitão, produtor e enólogo.
Desde a primeira edição, a operação dos vinhos “Cebolal Emerso” tem vindo a evoluir e, além da aprendizagem ao nível da composição do vinho do Mar, “muito mais salina e virada para o iodo”, o responsável destacou a componente ecológica, assim como “a arte” associadas a este projeto. Os resultados, refere, “são muito interessantes” e permitem perceber que há parâmetros, “como uma certa secura na boca, a própria complexidade e cor do vinho, que também se modificam”, adiantou o responsável, que quer “tentar mostrar” que é possível prever o futuro de um vinho que se desenha dentro da vinha.
Segundo o enólogo, o vinho que fermentou em lagar de barro, terminando o seu estágio em cuba, vai permanecer no fundo do mar “entre 12 meses até um ano e meio”, dependendo das marés e das pressões a que as garrafas estão sujeitas. Os seus principais mercados são Portugal e o Reino Unido. “As anteriores produções foram feitas especificamente para o mercado nacional e foi uma receção muito interessante, apesar de as pessoas entenderem que se trata apenas de ‘marketing’. O objetivo deste projeto passa por promover a economia local, a sustentabilidade e fazer uma sinergia entre empresas”.
Por isso, adiantou, “as garrafas são lacradas com cera de abelha, produção própria e de apicultores locais, o vidro é mais leve, numa lógica de pegada ecológica, a rolha é de cortiça, natural do Alentejo, e abdica-se do rótulo em papel, porque é a fauna, como as cracas, algas e mexilhões, que vai aparecer nas garrafas”.
O projeto está virado para “um nicho de mercado muito pequeno”, mas o empresário defende que é uma vertente que pode servir para combater a sazonalidade. “É uma vertente que pode ser muito importante para o inverno. Nesta região temos um mercado muito interessante na primavera, verão e outono, mas no inverno são épocas baixas, por isso penso que este é um trabalho que tem permitido complementar esta parte sazonal”, referiu.
Com 20 hectares de vinha, a Herdade do Cebolal, localizada em Vale das Éguas, no concelho de Santiago do Cacém, produz anualmente entre 60 e 70 mil garrafas de vinho tinto e branco, e pretende avançar ainda este ano com um segundo lote de vinho do Mar, mergulhando garrafas junto à Ilha do Pessegueiro.