Diário do Alentejo

Pousio Selection e o novo perfil dos rosés nacionais

20 de maio 2021 - 10:20

Texto Manuel Baiôa

 

A maioria dos portugueses ainda considera o rosé um vinho menor, quando comparado com o tinto, o branco ou o espumante. Por isso, compram pouco rosé e não estão dispostos a gastar muito dinheiro. Esta realidade levava os produtores a não terem o devido cuidado com os vinhos rosados, sendo grande parte deles um subproduto do vinho tinto. Ao querer aumentar a concentração no vinho tinto, era elaborada uma sangria do mosto, de onde saía um vinho rosé com uma cor mais fechada, álcool elevado, bastante frutado, e por vezes um pouco doce.

 

Esta realidade está a mudar desde há mais de uma década e grande parte das empresas começou a elaborar um rosé com um processo autónomo desde a vinha à garrafa, criando um perfil diferente do passado. É o caso dos vinhos rosés elaborados pela Casa Agrícola Herdade do Monte da Ribeira.

 

A Herdade do Monte da Ribeira é um dos ativos da Fundação Victor e Graça Carmona e Costa que se dedica a desenvolver e dinamizar projetos na área da arte contemporânea portuguesa. A herdade situa-se na freguesia de Pedrogão, concelho da Vidigueira, junto à aldeia de Marmelar. Tem uma área de cerca de 1100 hectares, a maior parte da qual se encontra na encosta sul da Serra do Mendro e é constituída por floresta mediterrânica, pastagens, 210 hectares de olival e 43 hectares de vinha. Optou-se por um encepamento de compromisso entre as castas tradicionais alentejanas, as do norte de Portugal e as estrangeiras, com as castas tintas em claro predomínio (Aragonez, Trincadeira, Touriga Nacional, Baga, Alicante Bouschet, Cabernet Sauvignon, Petit Syrah, Petit Verdot e Syrah). As castas brancas ocupam cerca de um terço do total da área da vinha (Roupeiro, Antão Vaz, Arinto, Alvarinho e Verdelho).

 

As primeiras vinhas foram plantas em 1989 e em 1992 foi comercializada a primeira colheita. Desde então houve alguma restruturação das vinhas e do portefólio da empresa. Neste momento, os vinhos estão distribuídos por três segmentos: Pousio Selection (tinto, branco e rosé); Pousio Antão Vaz & Alvarinho, Pousio Arinto, Pousio Alicante Bouschet, Pousio Reserva Tinto e Pousio Espumante Reserva; como topo de gama surge o vinho tinto Marmelar.

 

Os vinhos rosés têm vindo a alterar o seu perfil nas últimas décadas, seguindo o padrão da Provence, região pioneira e líder nas vendas a nível mundial. Os produtores da Provence têm quase uma obsessão na procura da cor perfeita. Os seus vinhos têm normalmente uma cor rosada aberta, com tonalidades que vão do salmão profundo à casca de cebola. São vinhos leves, delicados e frescos, ideais para refrescar nos dias quentes e para acompanhar pratos leves, peixes e frutos do mar. Portanto, esta região conseguiu seduzir com o seu rosé os milhões de turistas que a visitam e exportá-lo para todo o mundo. Nos Estados Unidos da América o consumo de rosé também disparou nos últimos anos e os consumidores estão dispostos a gastar algumas dezenas de dólares num bom vinho.

 

Portugal também recebe milhões de turistas e foram estes, em conjunto com a nova geração de portugueses, que estimularam as empresas a criarem um novo estilo de rosé. João Carmona, diretor comercial e de marketing da Herdade do Monte da Ribeira concorda que “com a entrada dos consumidores da geração ‘millennial’, o consumo do vinho passou a ter uma grande componente social. O vinho deixou quase de ser um produto gastronómico e passou a fazer parte do ‘lifestyle’ de uma nova geração de consumidores que procura vinhos leves, frescos e que possam ser consumidos num bar de praia, numa esplanada, a acompanhar uma salada ou uma refeição de ‘sushi’. O rosé, que até há muito pouco tempo era muito mal visto pelos consumidores portugueses, começou a ter maior procura e uma boa aceitação junto dos consumidores nacionais”. Assim, prossegue, “como Portugal é um país que recebe muitos turistas que são consumidores de rosés, tem sido fácil para nós, produtores, criarmos um produto que tenha uma boa aceitação nos mercados internacionais”.

 

O enólogo Nuno Elias reconhece que, no passado, “praticamente a totalidade de rosés nacionais eram produzidos por sangria de tintos, com um perfil típico de cor mais fechada, mais pesados e geralmente mais alcoólicos”. Posteriormente, “fomos dos primeiros produtores do Alentejo a avançar para a produção de rosé de uvas diretas à prensa. Para isso alterámos a casta, passando o vinho a ser feito quase exclusivamente a partir de uvas da casta Trincadeira; alterámos a data de vindima, passando a colher as uvas muito mais cedo de modo a ter um menor álcool provável; e obviamente alterámos o processo na adega, conduzindo uma prensagem direta e vinificando em bica aberta desde o início com todos os cuidados para proteger o mosto delicado que daí resulta”.

 

O perfil de Pousio rosé “já está estabelecido há alguns anos” e, segundo Nuno Elias, “baseia-se em três pilares fundamentais que são a fruta persistente, a frescura na boca e a redondez sem açúcares”.

 

Pousio Selection rosé 2020

 

Herdade do Monte da Ribeira

12,5% vol. PVP: 6,49 euros

Castas: Trincadeira, Aragonez e Touriga Nacional

 

Apresenta uma cor aberta, com tom de salmão. No aroma sentimos notas subtis de morangos, framboesas e ervas secas. Na boca é fresco, sofisticado, seco e gastronómico, com a conjugação de frutos vermelhos e notas vegetais e florais. O seu baixo teor alcoólico e a excelente acidez permitem combinações gastronómicas diversificadas. Sirva à temperatura 7.ºC.

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