Diário do Alentejo

Trilho do Vinho de Talha – Subida à Ermida de Santo António dos Açores promoveu Vila de Frades

07 de dezembro 2023 - 11:55
“Que já não tem abades…”Foto | Firmino Paixão

Carlos Papacinza (Núcleo Desportivo e Cultural de Odemira) e Sara Inácio (Associação Desportiva e Recreativa de Água de Pena/Açores) venceram a quarta edição do Trilho do Vinho de Talha – Subida à Ermida de Santo António dos Açores, que decorreu em Vila de Frades.

 

Texto | Firmino Paixão

 

Vila de Frades, a mais pequena, mas nem por isso a menos importante, das quatro freguesias do concelho de Vidigueira, acordou cedo na primeira manhã do mês de dezembro, Dia da Restauração da Independência, para receber cerca de três centenas e meia de participantes, nas variantes de caminhada e corrida (12 quilómetros) da quarta edição do Trilho do Vinho de Talha, um ex-libris da freguesia.

Já aqui escrevemos, noutras ocasiões e a propósito de outros acontecimentos, que as organizações destes eventos pretendem mostrar aquilo que de melhor existe nos seus territórios. Este, realizado na Capital do Vinho de Talha, não foi exceção. Diogo Conqueiro, presidente da Junta de Freguesia de Vila de Frades, concordou que essa é uma verdade absoluta, acrescentando: “O que pretendemos é, obviamente, que as pessoas venham numa ótica do desporto, mas não só, que fiquem também a conhecer aquilo que temos em Vila de Frades, o nosso território num todo, o nosso património, a nossa cultura e, principalmente, aquele que é o nosso produto âncora, pelo qual tanto batalhamos, que é o vinho de talha”.

O autarca fez notar ainda: “Sabemos que quem vem correr vem porque gosta de desporto, gosta da modalidade, mas também sabemos que o nosso território não se esgota nisso. O objetivo passa por permitir que as pessoas, além de praticarem desporto, possam conhecer melhor Vila de Frades”.

O património, aliás, edificado e imaterial, até nem se esgota no vinho de talha, adiantou Diogo Conqueiro. “Nós temos o único monumento nacional do concelho de Vidigueira, que são as ruínas romanas de São Cucufate, mas, dentro da malha urbana da freguesia, temos um dos únicos relógios ainda a funcionar por pêndulos – damos-lhe corda todos os dias –, temos a casa onde nasceu o escritor Fialho de Almeida, temos a igreja matriz, a igreja da misericórdia, mais recentemente o Centro Interpretativo do Vinho de Talha, temos os frescos da capela de São Brás, toda uma mais-valia que faz com que nós digamos, muitas vezes, que a freguesia não se esgota naquilo que é o vinho de talha. Portanto, temos muito para oferecer e este evento desportivo é uma prova precisamente disso. As pessoas podem vir pela gastronomia, podem vir pelo vinho, mas podem vir durante todo o ano para ver tanta coisa que nós temos para mostrar”. Pois é, mas Vila de Frades “já não tem abades”, provocámos: “Mas tem adegas que são catedrais e os palhetes que são brilharetes…”, atalhou o autarca.

O número de inscritos registou um novo recorde e isso deixou a organização satisfeita. “Um número tão elevado mostra que existe muita gente interessada na prática desportiva, mas mostra também que existe um grande e bem-sucedido trabalho de promoção deste evento, porque o calendário destas provas não é fácil, é cada vez maior e mais apertado, mas penso que o caminho é esse. Somos um dos poucos concelhos em que cada freguesia tem uma prova desportiva desta envergadura, portanto, isso mostra também um bocadinho do trabalho do município e das freguesias, nesta ótica da promoção daquilo que é o nosso território”. Outro dos intentos, a par da promoção do território, é fazer despertar a comunidade local para a prática de hábitos de vida saudável, referiu o autarca. “Desde os primeiros tempos de escola até à universidade sénior existe também todo um trabalho da autarquia, sempre no sentido de promover e sensibilizar para a prática desportiva e bem-estar da população”.

O evento, com animação musical do inigualável Martinho Caeiro, teve início junto ao Centro Interpretativo do Vinho de Talha, espaço inaugurado no Dia de São Martinho de 2020, revelando-se um espaço de interpretação, de difusão científica e tecnológica e de divulgação daquele produto. Outra particularidade é a subida à ermida de Santo António dos Açores, um monumento envolvido numa curiosa lenda, que Diogo Conqueiro partilhou: “É uma verdade histórica. Diz-se que o filho de dom Vasco da Gama, que foi conde de Vila de Frades e de Vidigueira, portanto, comprou as duas vilas para poder fazer condado. O filho tinha dois pássaros, dois açores, que fugiram, e aí entra a parte da lenda, que diz que, no ponto mais alto e mais próximo do lugar onde os pássaros fossem encontrados, seria mandado erguer uma ermida. Foram encontrados naquela colina e dom Vasco da Gama mandou, então, erguer a ermida de Santo António dos Açores, em memória dos pássaros do filho, não do arquipélago com o mesmo nome”, concluiu.

Carlos Papacinza e Sara Inácio, pela rapidez com que subiram ao alto da colina e voltaram à meta, bem pareciam ter asas como os açores do filho de dom Vasco da Gama. Se não tanto, pelo menos entronizados como confrades do vinho de talha.

 

Trilho do Vinho da Talha

Subida à Ermida de Santo António dos Açores

CLASSIFICAÇÕES ABSOLUTASFemininos (12 km)

  • 1.º | Sara Inácio (ADRAP) 47’46
  • 2.º | Sheila Azevedo (TP Mário Sá) 48’01
  • 3.º | Ana Lourenço (NDC Odemira) 52’30
  • 4.º | Joana Capelo (NAR Messejana) 54’28
  • 5.º | Maria Jesus Sousa (NAR Messejana) 56’42

Masculinos (12 km)

  • 1.º | Carlos Papacinza (NDC Odemira) 40’52
  • 2.º | Marco Marques (ACR Desterro) 41’58
  • 3.º | Vítor Carvalheira (NDC Odemira) 42’23
  • 4.º | Estêvão Janeiro (Beja Atlético Clube) 44’38
  • 5.º | Mário Godinho (Beja Atlético Clube) 45’50
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