Carlos Papacinza e Ana Lourenço venceram os Trilhos do Montado e dos Enchidos

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Carlos Papacinza e Ana Lourenço venceram os Trilhos do Montado e dos Enchidos

23 de junho 2023 - 09:00

Uma grande festa!

Foto | Firmino Paixão

A União de Freguesias de Santa Luzia e Garvão, no concelho de Ourique, estreou uma corrida denominada Trilhos do Montado e dos Enchidos, potenciando dois dos pilares económicos da Capital do Porco Alentejano.

Texto Firmino Paixão

O sol já ameaçava esgueirar-se pela linha do horizonte, por entre os recortes das serranias do litoral. Santa Luzia e Garvão estão no limite da fronteira entre os concelhos de Ourique e de Odemira. São povoados fechados, tocados por vias de intenso tráfego, por isso, os grandes eventos passam, invariavelmente, à “estrada nova”.

Lá dentro, pouco se sabe e quase nada acontece, a não ser o futebol, a modalidade que mais empolga as nossas gentes.

A União de Freguesias de Santa Luzia e Garvão decidiu, porém, oferecer às pessoas destas duas antigas sedes de freguesia, com a Funcheira de permeio, uma prova desportiva, “a festa das corridas”, como bem lhe chamou uma espetadora especial.

A partida dos cerca de 130 atletas, e de outros tantos caminheiros, aconteceu na rua Direita, artéria que, por sinal, no cruzamento da travessa do Moinho, fazia uma curva pronunciada e tornava-se íngreme, criando a primeira dificuldade. Outras se depararam, mais adiante, aos participantes.

Faltariam uns bons três quartos de hora para a partida, abriu-se uma janela por onde assomou a tal espetadora especial. Maria Joaquina, com rugas no rosto que assinalavam uma imensidão de jornas de trabalho campesino e duro.

“Falta muito para a festa das corridas?”, questionou ao forasteiro, o repórter que por ali procurava ângulos para a melhor foto. “Como está a senhora?”. “Olhe, mal posso andar, não posso nem ir à rua, vou fazer 89 anos para o mês que vem. Trabalhei muito, fui reformada aos 50 anos, já não podia nada, com dores”.

Os sinos da igreja próxima chamavam os fiéis para a missa da tarde, mas Maria Joaquina, alheando-se a esse chamamento, porque a mobilidade já é reduzida, prosseguiu os seus queixumes. “A reforma quase não chega para os medicamentos, nem posso ir para o lar. Vivo aqui sozinha, só venho à janela ver quem passa. O meu filho e a minha nora é que me visitam todos os dias. Fiquei viúva há 15 anos, o meu marido morreu de repente, quando andava na apanha da azeitona”.

Os atletas coloriam a rua em movimentos de aquecimento e a anciã seguia-os com o olhar. “Só tenho esta janelinha, é aqui que me assomo, já passam poucas pessoas conhecidas, mas hoje estou aqui para ver a festa das corridas”. Despedimo-nos “até mais ver”, com os votos de boa saúde para ambos. Nós, emocionados, mas enriquecidos com estes dois dedos de conversa.

À hora prevista lá passaram os atletas pela janela da senhora Maria Joaquina. Na frente, Carlos Papacinza e Ana Lourenço, ambos atletas do Núcleo Desportivo e Cultural e Odemira, que haveriam de vencer esta primeira corrida entre a terra dos montados e a terra dos enchidos, com passagem pela Funcheira.

No pelotão, um tanto anónimo, seguia o líder autárquico de Ourique, o ainda jovem Marcelo Guerreio, a quem, à chegada a Garvão, no largo da Palmeira, perguntámos se os 10 quilómetros de prova pareceram infindáveis.

“Correr 10 quilómetros é sempre algo duro, mas o importante foi participar, divertirmo-nos e praticarmos desporto, essa é a única intenção, real e verdadeira em provas deste tipo, e foi isso que aconteceu, portanto, só temos que estar satisfeitos”, garantiu o autarca socialista.

No fundo, e tendo em conta o honroso 42.º lugar na geral, também um bom exemplo à sua população, de boas práticas de vida saudável. “Sim, no fundo, o desporto é importante e fundamental para todos e devemos tentar fazer do desporto, sobretudo, uma festa, porque quando vamos para uma festa vamos sempre mais bem-dispostos, por isso, a corrida, o atletismo ou a caminhada, devem ser encarados nessa perspetiva, até porque acho que hoje foi mesmo um dia de festa para as pessoas de Santa Luzia, de Funcheira e de Garvão, um dia importante para o desporto neste concelho”.

Marcelo Guerreiro adiantou ainda: “Tudo isto tem um impacto determinante na dinâmica do movimento associativo do concelho de Ourique e, acima de tudo, constitui um excelente chamariz para as pessoas saírem de casa e praticarem desporto”.

O rosto principal da organização foi o vice-presidente da união de freguesias, Leandro Oliveira, um confesso entusiasta de corridas, que disse ao “Diário do Alentejo”: “Sempre gostei disto, e surgiu-me a ideia de fazer esta prova. Na união de freguesias achámos que teríamos capacidade para fazermos esta travessia entre Santa Luzia e Garvão, algo que nunca tinha acontecido, mas que achámos que seria interessante, até por unirmos as duas populações e sentirmos que poderíamos fazer algo de diferente, de inovador. Tínhamos razão, porque a prova foi um verdadeiro sucesso”.

Valeu a pena, garantiu, até pela participação das pessoas na preparação da prova, mas também na corrida e na caminhada.

“Superámos todas as nossas expectativas, foi uma experiência nova para todos nós, obviamente que haverá alguns aspetos a corrigir no futuro, mas, como digo, foi a primeira vez que fizemos uma coisa deste género e, muito honestamente, não esperava algo com estas proporções porque tivemos aqui perto de 300 pessoas entre a caminhada e a corrida, com a presença de alguns dos melhores atletas do distrito a correr entre Santa Luzia e Garvão. Foi um grande orgulho para nós”.

Por isso, a segunda edição ficou quase anunciada, veremos é se a senhora Maria Joaquina ainda lá estará, assomada à janela, para ver passar a festa das corridas.

“Acho que nos superámos e esperamos continuar cada vez com mais força, sobretudo, com o incentivo que nos deram as empresas do concelho e, naturalmente, com os importantes apoios que recebemos, quer das freguesias, quer do município de Ourique, sem os quais nada disto seria possível”, afirmou Leandro Oliveira.

Resultados Trilhos Absolutos Femininos: