A Associação de Atletismo de Beja encerrou e época desportiva 2020/2021 com a realização do Campeonato Distrital de Absolutos e Veteranos, competição que reuniu na pista de atletismo do Complexo Desportivo Fernando Mamede, na cidade de Beja, um total de 80 atletas.
Texto Firmino Paixão
Uma época curta, planeada num tempo difícil, que obrigou à redução do calendário a 18 provas, disputadas entre finais de abril e meados de julho. A boa notícia, ainda assim, foi a reutilização da pista bejense, infraestrutura que permitiu a organização de um conjunto de provas que atenuaram alguma inatividade em que os clubes e os atletas se debatiam. Foi a época possível – esta é uma ideia generalizada entre técnicos e dirigentes de alguns clubes do distrito, ouvidos pela reportagem do “Diário do Alentejo”.
José Silveira, treinador da Juventude Desportiva das Neves, confirmou esse pensamento: “Sim, foi a época possível, mas nós praticamente não parámos, apesar da pandemia. Treinámos sempre, a pista só abriu em abril, mas nós trabalhávamos no parque de estacionamento da Ovibeja, treinávamos na estrada, fomos fazendo o possível. Quando abriu a pista tentámos melhorar os índices, mas depois as competições eram muito concentradas… julgo que coletivamente estivemos muito bem”.
Satisfeito com os resultados obtidos, o histórico técnico recorda: “Estivemos em provas nacionais e a maior parte da seleção do Olímpico Jovem é composta por atletas das Neves, ganhámos coletivamente uma prova de corta-mato, também vencemos coletivamente os campeonatos de juvenis, juniores, absolutos, o olímpico jovem, portanto, em termos coletivos o que havia para ganhar, ganhámos. Agora não temos veteranos, também não investimos em veteranos, não é o nosso objetivo, mas ganhámos as outras provas coletivamente e nestes campeonatos absolutos também ganhámos em masculinos e femininos”.
Contudo, é com algum ceticismo, apesar da esperança no futuro, que José Silveira olha para a próxima temporada. “Espero que esta questão da pandemia melhore, mas nós temos um problema, porque a maior parte das nossas atletas são juniores e então, nessa altura, vão embora. Mas é esse o atletismo que temos aqui no nosso distrito. Depois, só ficam aqueles atletas seniores que não entrarem na universidade, mas vamos ver… estão a aparecer novas fornadas de miúdos, havia um certo receio dos pais em deixá-los vir aos treinos, por causa da covid-19, mas temos confiança que podemos ultrapassar isto. Acho que iremos conseguir”.
O presidente do Beja Atlético Clube, João Cruz, também comunga desta ideia: “Em face das circunstâncias da pandemia, foi a época possível, mas nós fazemos um balanço positivo da nossa época, conseguimos alcançar os objetivos nas provas onde estivemos presentes, conquistando vários títulos distritais, somos campeões do Alentejo e terminámos a época desportiva com o campeonato de veteranos, onde obtivemos também bons resultados”. É com uma forte ambição e uma deliberada aposta nos escalões mais jovens que o também atleta do clube bejense olha para o próximo futuro. “Os nossos objetivos mantêm-se ambiciosos. A nossa aposta será sempre na escola de formação e, claro, vamos tentar reforçar a nossa equipa sénior e manter a equipa de veteranos. Não é fácil manter estas vertentes, dadas as circunstâncias em que vivemos, numa modalidade que é difícil e também pelos compromissos profissionais dos nossos atletas”, sublinha.
Começar tudo de novo é a ideia de Raul Lourenço, presidente do Núcleo Desportivo e Cultural de Odemira. “Fizemos o possível, conseguimos ainda participar em alguns eventos na pista de Beja, com os jovens que ainda conseguiram treinar a partir do dia 24 de maio, que foi quando tivemos acesso à pista. Esta situação da covid-19 dificultou-nos muito a vida, agora vamos olhar em frente, tentar recomeçar em setembro para prepararmos a nova época, reunir com os veteranos. Temos cerca de 16 miúdos que querem retomar a atividade em setembro, temos que começar tudo de novo”.
O clube do litoral alentejano vai reforçar a sua aposta na formação, garantiu o também atleta e técnico odemirense. “Vamos focar-nos mais nos escalões jovens, o escalão de veteranos é quase autónomo, tendo em conta que tem atletas que gostam de diversificar a sua atividade. Tentaremos refletir, depois destes momentos que foram fundamentais, com os campeonatos distritais, regionais e nacionais de veteranos mas, essencialmente, vamos focar-nos na formação e vamos começar tudo de novo. A ideia é essa: em setembro de 2021, começar tudo de novo, quer com a equipa de atletismo, quer com a equipa de natação, que também tem estado numa situação difícil, porque há dois anos que os miúdos não têm vivências na água”.
A bejense Sara Inácio, atleta da Associação Desportiva e Recreativa Água de Pena [Madeira] competiu à margem dos campeonatos e revelou ter sido esta a sua última prova da época, porque as competições nacionais que estavam calendarizadas já se concretizaram. “Tem sido uma época muito complicada, por causa da covid-19. Não conseguia treinar, foi um período muito complicado e agora vamos retomando, aos poucos. O foco é tentar melhor as marcas que tenho, nos 800 e nos 1500 metros”.
O campeonato disputado em Beja foi também valorizado pela presença da consagrada Sandra Teixeira, atleta do Sporting Clube de Portugal, que explicou a sua presença em Beja: “Vinha aqui para competir mas, infelizmente, lesionei-me durante a semana e isso impediu-me de o fazer. Trouxe as atletas que treinam comigo em Lisboa, para elas poderem competir aqui. São atletas de vários clubes, algumas estão comigo no Sporting, outras no Belenenses, mas são treinadas por mim. Sabemos que, em Portugal, as provas têm sido poucas e então temos que aproveitar as poucas que existem. Mas Beja sempre foi uma cidade que me acarinhou muito, por isso é um prazer estar aqui presente e aproveitarmos o dia”, concluiu.