A nova residência de estudantes do Instituto Politécnico de Beja (IPBeja), orçada em cerca de 22 milhões de euros, foi recentemente inaugurada pelo primeiro-ministro, Luís Montenegro, e pelo ministro da Educação, Ciência e Inovação, Fernando Alexandre. O edifício, vai permitir alargar para 900 o número de camas disponibilizadas pela instituição.
Texto | Ana Filipa Sousa de SousaFoto | Ricardo Zambujo
“A Residência Europa representa um marco estratégico para o Instituto Politécnico de Beja (IPBeja) e para as condições de vida e estudo dos estudantes. É um símbolo de esperança e, ao mesmo tempo, um motivo de orgulho para a comunidade académica e para a região”. É desta forma que Maria de Fátima Carvalho, presidente do IPBeja, descreve ao “Diário do Alentejo” (“DA”) a importância do novo alojamento para a instituição e, consequentemente, para o distrito de Beja.
O edifício, inaugurado no passado dia 25 de setembro, e como o “DA” já tinha noticiado em maio deste ano, está localizado junto à Escola Superior de Tecnologia e Gestão e inclui um piso térreo e três pisos elevados dotados com 327 alojamentos, divididos por 126 quartos individuais e 150 duplos e por 25 estúdios individuais e 26 duplos. Quinze destes 327 quartos dizem respeito a pessoas com mobilidade reduzida.
Desta forma, segundo a presidente, a nova residência possibilita que o IPBeja passe a disponibilizar mais 503 camas e elevar para cerca de 900 o número de alunos e docentes que podem usufruir deste apoio, o que faz com que o instituto tenha “um rácio de cama por estudante dos mais elevados do País”.“O rácio de camas por estudante no ensino superior português aponta para que aproximadamente um em cada oito a 12 estudantes deslocados encontre vaga em residência estudantil institucional, [o que está] muito aquém das necessidades e das recomendações europeias que sugerem uma cobertura de, pelo menos, 12 por cento”, justificou Maria de Fátima Carvalho, referindo, de seguida, que, atualmente, o IPBeja apresenta um rácio de “30 por cento”, ou seja, “uma vantagem competitiva muito distinta”.
Destinada a estudantes, nacionais e internacionais, assim como a docentes e investigadores, a nova residência possui ainda zonas de convívio e de estudo, cozinhas comunitárias, áreas técnicas, espaços de refeição, uma lavandaria, um ginásio, um claustro, um pátio interior e uma zona verde não coberta.“A atual capacidade de alojamento do IPBeja permite à instituição diferenciar-se em várias frentes, de modo a oferecer condições distintas para todos os que a procuram ou para atrair outros para o IPBeja”, garantiu.
Maria de Fátima Carvalho admite, assim, que este novo alojamento é “uma peça chave” para “um futuro promissor e de esperança” na internacionalização da instituição, nomeadamente, através da sua integração na Universidade Europeia Heros.
“Esta residência dota o IPBeja de infraestruturas dignas e à altura de ser uma universidade politécnica, capaz de receber com elevado nível de acolhimento os novos estudantes, incluindo os que virão doutorar-se pelo IPBeja, quer sejam nacionais, europeus ou doutras partes do mundo”, assegurou a responsável.Assim, Maria de Fátima Carvalho reconhece que este novo edifício é “um marco estratégico para atrair novos estudantes para a região”, mas também para “revitalizar a economia local, dinamizar a vida cultural e social” e “reforçar o papel do ensino superior na coesão territorial”.
Na sessão de inauguração, que contou com a presença do primeiro-ministro, Luís Montenegro, e do ministro da Educação, Ciência e Inovação, Fernando Alexandre, a presidente fez questão de notar que esta residência é “um sonho” e “uma referência nacional de construção moderna”, uma vez que é “muito ecológica, segura e duradoura”.
Ministro da Educação considera obra “um dos bons exemplos do investimento” do PRR Depois da visita às novas instalações da Residência Europa, o líder do Governo apontou que é do dever do Estado “tratar do alojamento dos estudantes que estão no ensino superior, mas também das condições de dignidade das habitações dos estudantes antes daqui chagarem”.
“Naturalmente que queremos garantir que aqueles que estão numa altura decisiva da sua formação, da aquisição de conhecimento, de capacidade inovadora [e] até de aprofundamento e de investigação, tenham condições para realizar essa etapa com sucesso, de maneira a depois aportarem o seu conhecimento ao desenvolvimento do País”, afiançou durante a sua intervenção.
Relativamente ao projeto de construção do edifício, o primeiro-ministro afirmou que este demonstra “que é possível construir com outra filosofia, com outro enquadramento”, e, ao mesmo tempo, com “qualidade, sustentabilidade e rapidez”.
Em alusão ao nome do alojamento, o líder do Governo justificou-o dizendo que “o IPBeja trabalha com a Europa para ser mais forte [e] para fortalecer Portugal”, havendo, por isso, “uma esperança” para que a instituição continue a “construir o futuro” do País.
No final da sessão, o responsável pela tutela, Fernando Alexandre, referiu que “esta é uma daquelas obras que pode transformar a região e, em particular, o IPBeja”, uma vez que “aumenta imenso a capacidade de receber estudantes deslocados”, o que “é essencial para garantir uma melhor integração” e “mais sucesso no percurso escolar”, sendo, também, “um dos bons exemplos do investimento do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR)”. O alojamento contou com um investimento de 22 milhões de euros.
Quando questionado sobre a reduzida adesão de estudantes aos cursos do IPBeja, Fernando Alexandre admitiu estar “preocupado”, sobretudo, “se houve alunos com condições para entrar e que não o puderam fazer”, mas assegura que “as instituições têm estratégias de alargamento”.“Por exemplo, os Cetesp [curso técnico superior profissional] são uma alternativa e uma área muito importante de formação de qualificação dos portugueses, em que os institutos politécnicos têm tido um papel muito importante”.
Recorde-se que na 1.ª fase do concurso nacional de acesso 2025/2026 ao ensino superior, do total de 519 vagas abertas pelo IPBeja, respeitantes a 14 licenciaturas, apenas foram preenchidas 203. Quanto ao facto de terem existido, neste ano letivo, cursos no IPBeja sem qualquer aluno colocado – Agronomia, Engenharia do Ambiente e Ciências e Tecnologia dos Alimentos –, o responsável assegurou que, “nesse caso, as instituições também têm de pensar a sua oferta”.
“Quando não há nenhuma vaga preenchida é preciso, obviamente, olhar para a procura, para aquilo que são as necessidades dos territórios e ajustar a oferta. Nós não podemos insistir em dar uma oferta que depois não tem procura”, assegurou Fernando Alexandre.
IPBeja preenche quatro vagasna 3.ª fase do concurso nacionalOs resultados da última fase do Concurso Nacional de Acesso ao Ensino Superior (Cnaes), tornados públicos na quarta-feira, dia 1, pela Direção-Geral do Ensino Superior (DGES), dão conta de que das 130 vagas abertas para 11 cursos no Instituto Politécnico de Beja (IPBeja) apenas quatro foram preenchidas. A Escola Superior Agrária, nomeadamente, os cursos de Agronomia (quatro vagas disponíveis), Ciências e Tecnologia dos Alimentos (15) e Engenharia dos Alimentos (nove), não teve qualquer aluno interessado. Paralelamente, na Escola Superior de Educação os cursos de Serviço Social (20), Audiovisual e Multimédia (seis) e Desporto (10) tiveram três candidatos, sendo que apenas os dois últimos registaram uma colocação cada um. Na Escola Superior de Tecnologia e de Gestão apenas o curso de Turismo (20) teve dois alunos colocados, deixando os cursos de Engenharia Informática (20), Gestão de Empresas (20), Gestão de Empresas em regime pós- -laboral (quatro) e Solicitadoria (dois) sem qualquer colocação. Segundo o Cnaes, o IPBeja registou a admissão de 203 estudantes, ou seja, 39,1 por cento das vagas ocupadas, nas três fases de ingresso. Segundo o jornal “Público”, face ao número reduzido de alunos que ingressaram no ensino superior no País, sobretudo, nos institutos politécnicos, o Ministério da Educação, Ciência e Inovação convocou para quinta-feira, dia 2, (já depois do fecho da presente edição), o Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas e o Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos para uma reunião de análise dos resultados das colocações deste ano. No mesmo dia, realizou-se uma reunião conjunta entre a tutela e nove presidentes de institutos politécnicos para debater a evolução do sistema de ensino superior, o impacto da baixa procura do mesmo em algumas instituições e os desafios e prioridades para a coesão territorial tendo em conta este cenário.