Diário do Alentejo

PS defende empresa para gerir aeroporto de Beja

08 de abril 2021 - 14:25

A Federação do PS do Baixo Alentejo propôs ao Governo a criação de “uma empresa de desenvolvimento do projeto industrial e logístico, que viabilize a instalação de empresas, a dinamização económica e afirme uma estratégia sustentável para as próximas décadas” do aeroporto de Beja. Os socialistas defendem, ainda, o “reforço” da posição da ANA – Aeroportos de Portugal “na gestão e valorização da componente de passageiros”.

 

Texto Marta Louro

 

A Federação socialista recorda que o aeroporto de Beja “constitui-se como um dos principais fatores de desenvolvimento da região, contribuindo, em toda a sua dimensão e nas suas principais valências, como instrumento capaz de dinamizar respostas de coesão do território, de criação de emprego, de instalação de empresas multinacionais e de promoção e valorização externa”.

 

Por isso, acrescenta, “deve ser uma infraestrutura aeroportuária, que reforce a rede nacional de aeroportos, criando uma nova mais valia para Portugal e para o Baixo Alentejo, a partir de uma solução de fins múltiplos de indústria aeronáutica, de plataforma logística e de tráfego de passageiros complementar a Faro e a Lisboa”, solução que “acrescenta valor inquestionável à região e reforça a capitalização humana e territorial”.

 

Mas, para o fazer, diz o PS, é necessária a criação de uma empresa para captar investimentos. “Para agilizar processos de captação de investimento privado é necessário ter respostas e ter alguém que consiga criar essas respostas dentro do conhecimento do setor industrial e logístico”, sublinha Nelson Brito, presidente da Federação do PS do Baixo Alentejo. “Parece-nos evidente que essa solução passa por ter uma empresa dedicada exclusivamente à dinamização do parque industrial e logístico do aeroporto de Beja, vocacionada para esta realidade e com um grau de profissionalismo e de conhecimento internacional, porque o futuro do aeroporto de Beja é à escala global”, acrescenta.

 

Segundo Nelson Brito, “esta empresa só pode ser criada pelo Governo e para tal é necessária uma decisão política” assente no reconhecimento de que o aeroporto de Beja tem como principais valências a indústria aeronáutica e a logística e colocando-o a competir à escala global. “Naturalmente que acreditamos que o governo será sensível a esta solução”.

 

Para que tal aconteça, “é necessário convencer o Governo e mobilizar a opinião pública para esta solução, como sendo aquela que traz maiores benefícios à região e ao país, que cria emprego e competitividade económica e que faz do aeroporto de Beja o centro da ação política na promoção da coesão territorial”, salienta.

 

Os socialistas defendem que Beja “não é alternativa” à solução Montijo: “O que defendemos é que o aeroporto de Beja tem um espaço próprio, de indústria e logístico e de tráfego de passageiros complementar e não alternativo. E aqui está a diferença, ser complementar vai ao encontro da sua capacidade e natureza, ser alternativo é megalómano e inviabiliza em qualquer vertente o aeroporto de Beja”.

 

“NOVA ROUPAGEM”

 

Questionado pelo “DA”, o deputado comunista João Dias, eleito pelo círculo de Beja, diz que o PCP “há muito que defende que o aeroporto de Beja deve ser aproveitado em todas as suas potencialidades” e acusa o PS de, “com esta nova roupagem”, querer “lavar a cara” das suas responsabilidades. “Nós compreendemos que estamos num ano eleitoral e percebemos que a ideia é aproveitar o protagonismo para alavancar os resultados eleitorais nas autárquicas, mas há que denunciar aquilo que os líderes do PS a nível regional querem fazer passar, de que não têm responsabilidades nenhumas sobre o passado e sobre a falta de aproveitamento quer de infraestruturas tão fundamentais como o aeroporto, ou como o IP8 ou a ferrovia”.

 

Os membros do PS são os mesmos, por isso não podem agora, só porque mudou a presidência da Federação, achar que o que ficou para trás é para esquecer”, acrescenta João Dias, acusando a ANA de “não ter interesse” em viabilizar o aeroporto de Beja. “Aí é que está o problema”.

 

João Paulo Ramôa, coordenador do grupo de trabalho que em 2012 apresentou um conjunto de propostas para a rentabilização do aeroporto de Beja, diz-se satisfeito com este anúncio do PS: “Pela primeira vez, o Partido Socialista não prioriza a questão da alternativa a Lisboa. A vertente dos passageiros e a sua complementaridade a Lisboa e ao Algarve é importante, mas não é uma prioridade”. Em seu entender, “a vertente industrial e a respetiva questão logística” terão um “impacto significativo para a região, porque criará bons empregos”, que por sua vez obrigarão a “elevadas habilitações académicas e profissionais. Isso é bom para a região”.

 

 “AFIRMAÇÕES EM CONTEXTO PRÉ-ELEITORAL”

 

Para o gestor e dirigente comunista José Maria Pós-de-Mina, a proposta de criação de uma empresa para gerir o parque industrial e logístico do aeroporto de Beja “não acrescenta nada de novo” e deve ser enquadrada “no contexto pré-eleitoral” que o país atravessa. “Ignora que já existiu uma empresa que poderia ter dinamizado o aproveitamento do aeroporto, a EDAB e que foi extinta pelo Governo PSD/CDS, que também privatizou a ANA”. Esse processo, diz Pós-de-Mina, “deveria ter sido revertido pelo Governo do Partido Socialista, que não o fez”. Assegurando “não ter nada contra a criação de uma nova entidade, desde que tenha gestão pública”, o dirigente comunista refere, no entanto, que “não é a ausência desta entidade que tem impossibilitado a tomada de medidas que valorizem o aeroporto de Beja, o insiram na rede aeroportuária nacional, e dinamizem a sua componente de apoio à instalação de indústrias e a constituição de uma plataforma logística”.

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