Diário do Alentejo

Situação na barragem do Monte da Rocha está “minimizada”

14 de setembro 2025 - 08:00
Em causa está o sabor e o cheiro inusitados na água em cinco concelhos
Foto | Ricardo ZambujoFoto | Ricardo Zambujo

Durante as últimas duas semanas, os municípios de Almodôvar, Castro Verde, Mértola, Ourique e Odemira deram conta de “um ligeiro cheiro e um sabor intenso e desagradável” na água fornecida pela barragem do Monte da Rocha. Em declarações ao “Diário do Alentejo”, o presidente das Águas Públicas do Alentejo, Diogo Nascimento, garante que a situação “está minimizada, existindo muito pontualmente algum sabor”, mas que, ainda assim, a água “está perfeitamente desinfetada”.

 

Texto Ana Filipa Sousa de Sousa

 

A ocorrência “repentina” e “anormal” de formação de algas na barragem do Monte da Rocha, causada pelas “elevadas temperaturas registadas neste período do ano”, pela “forte exposição solar” e pelo “abaixamento do nível da massa de água”, em simultâneo com a “obra” nos filtros de areia e de carvão ativado granular, resultaram, “substancialmente”, na alteração da qualidade de água fornecida em cinco concelhos do distrito de Beja.

Segundo o presidente da Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo (Cimbal), António Bota, as causas apresentadas não são justificativas, uma vez que “temos tido anos com cotas [na barragem] muito mais baixas” e esta situação não se verificou.

“Detetou-se também que o filtro de carvão ativado não estava a funcionar muito bem, mudou-se o filtro e a coisa tem vindo a melhorar, mas continuamos com algum tipo de bactéria na água, [porque] o sabor é intragável e ninguém consegue, por exemplo, escovar os dentes”, relata.

A situação, detetada no final de agosto, tem afetado os concelhos de Almodôvar, Castro Verde, Mértola, Ourique e Odemira.

“Há zonas nos concelhos onde o problema não se sente tanto. Por exemplo, em Almodôvar há lugares onde não há esse problema e em Ourique, segundo o presidente da câmara, há zonas que nunca sentiram nada e outras onde foram os primeiros a sentir, nomeadamente, em Garvão. Também não conseguimos explicar o porquê, pensamos que pode ser uma questão de pressão da água, [ou seja], a água não chega às torneiras da mesma forma, mas não sabemos bem explicar isto”, afirma.

“Já um bocadinho aborrecidos com a situação”, os municípios integrantes da Cimbal – os concelhos acima referidos à exceção de Odemira –, solicitaram uma reunião à Águas Públicas do Alentejo (AgDA), responsável pelo abastecimento em “alta”, para “pedir explicações e pedir que resolvesse o problema o quanto antes, porque já não se justifica que este se mantenha passados 15 dias”.Em declarações ao “Diário do Alentejo”, o presidente do conselho de administração da AgDA, Diogo Nascimento, confirma “o cheiro e o sabor na água fornecida”, mas garante que a situação “está minimizada, existindo muito pontualmente algum sabor”.

“Desde o início deste episódio, a AgdA tem mantido uma comunicação direta e permanente, tanto ao nível técnico, como ao nível dos executivos, como é habitual neste tipo de ocorrências. Além dos contactos diretos efetuados, no dia 25 de agosto, foi enviado um comunicado dirigido aos presidentes dos respetivos municípios, relatando a ocorrência e fazendo o ponto de situação àquela data”, explica o responsável, confirmando que na segunda-feira, dia 9, foi “enviado novo comunicado com atualização da situação”.

Segundo Diogo Nascimento, na reunião de dia 4 “os autarcas transmitiram a sua preocupação com a situação descrita”, tendo a AdGA comunicado que esta “continua a ser monitorizada, quer na origem, quer nas várias etapas de tratamento, quer nos diferentes destinos da água”, estando “em fase de estabilização”.

“As várias iniciativas operacionais foram acionadas pela urgência da situação, sendo que a totalidade das etapas de tratamento estarão em funcionamento após término da empreitada em curso, para reabilitação de todos os filtros de areia e de carvão ativado granular”, admite.

O responsável garante que, “apesar da existência de cheiro e sabor serem provocados por microrganismos”, a água tratada pela ETA do Monte da Rocha “está perfeitamente desinfetada”.

Questionado quanto à possibilidade desde ocorrência registar-se noutras barragens ou noutros anos, Diogo Nascimento diz que o “fenómeno” do aparecimento de algas na água bruta é “natural” e que, por isso, as equipas operacionais da AgDA têm consciência e estão alerta para “atuar de forma célere sempre que se prevê ou que ocorram alterações ao nível da qualidade da água”.

António Bota, também presidente da Câmara Municipal de Almodôvar, espera que “a máquina de ionização”, que deverá “permitir maior produtividade de ozono” e, consequentemente a “oxidação da matéria orgânica”, resolva o problema.

“De qualquer das maneiras é estranho. Comprometeram-se que na próxima semana, com este novo sistema, o problema estará resolvido, mas andamos nisto há 15 dias [e] com tanta tecnologia instalada, tanto conhecimento, não achamos normal que isto esteja a ocorrer”, ressalva.

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