Diário do Alentejo

Confiança no mundo rural, consumir produtos portugueses
Opinião

Confiança no mundo rural, consumir produtos portugueses

Pedro do Carmo, presidente da Comissão Parlamentar de Agricultura

17 de abril 2020 - 14:00

A pandemia, quando ainda estamos no meio da tempestade, já nos ensinou que temos de ser mais autónomos, procurar gerar mais no nosso território aquilo que é essencial em tempo de emergência e nos quotidianos que virão, certamente com outros perfis, ritmos e hábitos. O mundo rural pode ser um desses pilares do novo tempo, superando a tradicional falta de atenção ou desatenção dos media, dos decisores e da população em geral, apesar do labor contrário de alguns. Se é para gerar maior autossuficiência, o mundo rural é incontornável, agora como no futuro.

 

Em tempo de responder aos desafios de saúde pública e continuar a alimentar as necessidades básicas, como as alimentares, é importante que a capacidade produtiva dos nossos agricultores e produtores seja ajudada pela distribuição e pelos consumidores. Como é fundamental apoiar os nossos pescadores no escoamento do resultado da sua faina, quantas vezes em condições muito agrestes.

 

Comprar produtos portugueses é uma opção de qualidade, de solidariedade e de sentido de futuro. Pode ser a diferença entre desaproveitar os produtos que já estão prontos a colher e viabilizar a manutenção da atividade agroalimentar de muitos cidadãos, economias locais e regiões.

 

Este é, uma vez mais, tempo de dar expressão à valorização do interior, dos pequenos produtores e dos produtos tradicionais que, demasiadas vezes não vemos nos pontos finais de distribuição, ao invés de produtos importados. Em tempo de pandemia, devemos ficar em casa, não podemos ir à terra na Páscoa e há quem tenha crescentes dificuldades, por via da redução dos rendimentos. Mas se muitos não vão à terra, podem e devem consumir produtos portugueses e exigir que as cadeias de distribuição assegurem o escoamento do resultado do trabalho dos nossos agricultores e produtores.

 

É preciso reafirmar a confiança no enorme potencial agroalimentar de Portugal, dos impulsos que nos últimos anos têm sido concretizados de valorização dos produtos tradicionais e de afirmação de novas abordagens e de novas produções. Esse Portugal que semeia, que cria, que produz e que inventa formas de resiliência da ruralidade, precisa da distribuição e dos consumidores.

 

Naturalmente, o Estado também tem de estar presente neste contexto de emergência. Depois da emergência de saúde pública e das suas sequelas, teremos oportunidade para adotar novos mecanismos de projetar ainda mais no mundo digital o que produzimos no território nacional e que pode ser adquirido ao alcance de um clique ou para defender que, mesmo no contexto europeu, cada país possa ter uma capacidade produtiva de salvaguarda das necessidades em estado de emergência que deveria ser sempre salvaguardada nas oscilações da política agrícola comum.

 

Isso é depois. Agora é tempo de comprar português. De ajudar a escoar o que está nos campos e nas explorações, sendo fruto do labor de vivência e de sobrevivência de milhares de mulheres e homens comprometidos com o nosso mundo rural. É tempo de a distribuição comprar e revender mais produtos portugueses e mais produções locais, pagando nos prazos mais curtos possíveis.

 

É tempo de os consumidores optarem pelos produtos portugueses, de produções locais, de gente fundamental para a manutenção da capacidade produtiva e das tradições. Este é um tempo difícil e diferente. Todos precisamos de todos. Cada um pode fazer a diferença. Quando tiver de ir à mercearia, à loja ou ao supermercado, ou se o fizer pela internet, opte pelos produtos de origem nacional. Como alguém dizia, também na agricultura o tempo é de maratona e não de sprints, mas para isso, para que continuemos a correr e a contar com os agricultores e os produtores, estes têm de continuar a produzir, a distribuir, e nós a comprar.

 

Depois da pandemia, muitos acertos nos hábitos, nos ritmos e nas opções gerais de política serão tomados, mas por agora o que importa é manter a economia a funcionar minimamente, o mundo rural a resistir e os portugueses a poderem ter acesso à produção nacional. O nosso mundo rural merece essa confiança, dos distribuidores e dos consumidores. Juntos, vamos superar este desafio de saúde pública.

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