Diário do Alentejo

Medo
Opinião

Medo

Vítor Encarnação, professor

12 de abril 2020 - 10:20

Ter medo é uma coisa boa, o medo é um regulador de decisões, um definidor de caminhos, há dentro do medo um sítio onde nos agarramos quando a vida nos ameaça. Ter medo faz-nos mais fortes, o medo é uma emoção que nos torna mais racionais, é neste aparente contrassenso que melhor calibramos a nossa reação. 

 

Visto como uma vergonha e uma fraqueza, o medo deve ser assumido como algo de fundamental para não cairmos na armadilha da ousadia desmedida, ou pior do que isso, no logro da inconsciência, da irresponsabilidade e da alarvidade. A aceitação do medo é a aceitação das nossas limitações, quem conhece os seus limites estuda, perscruta e analisa muito melhor e com mais cuidado qualquer realidade que o intimide, quem reflete e prevê consequências chega à resolução do problema de uma forma mais consistente e mais capaz. 

 

Ter medo é um farol, um olhar mais claro, uma luz sobre outra luz, uma segurança dupla. Ter medo não é uma fragmentação, não é perder as forças, perder noites de sono, sentir-se esmagado, paralisado, em processo de fuga, não, a isto chama-se pavor, pânico, uma perda absoluta de controlo, um assunto clínico a carecer de ajuda. Não nos podemos permitir resvalar para tais abismos, o tempo que vivemos exige de nós uma enorme coragem e resiliência e é por isso que devemos sentir medo, sentir medo é a única solução congruente que temos ao nosso alcance.

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