Diário do Alentejo

Cada um é responsável por todos e proteger-se a si é proteger a comunidade
Opinião

Cada um é responsável por todos e proteger-se a si é proteger a comunidade

Ana Paula Figueira, professora

15 de março 2020 - 15:11

Na altura em que escrevo este texto, estão confirmadas 21 pessoas infetadas pelo Covid-19 em território nacional. Segundo a Direcção- -Geral de Saúde estamos numa fase de contenção alargada. Da mesma forma que me incomodava a forma como a comunicação social nacional tratou o assunto antes de existirem pessoas infetadas em Portugal, incomoda- me as instituições/entidades/organizações não terem apostado na prevenção e na preparação dos respetivos planos de contingência nessa altura, preferencialmente aconselhados pelos ministérios devidos. Na esperança de que o vírus não chegasse até cá, optou-se por continuar a fazer a “vida de sempre”. Sei que “agir” é sempre mais complexo do que “reagir” e por isso diria que o despacho número 2836/2020, de 2 de março, deveria a meu ver, ter surgido mais cedo. Assim mesmo, continua a incomodar-me a forma antagónica como as pessoas continuam a expressar a sua opinião sobre este assunto: há os que o vêem com leviandade, confiando na sorte e há os hipocondríacos, que se deixam paralisar pelo medo. Sendo este vírus algo completamente novo, cujas consequências ignoramos, não me parece que lhe devamos dar tréguas. Antecipar possíveis cenários permite-nos prevenir a impotência de estar a lidar com o desconhecido. Por outro lado, o medo é protetor mas também pode ser bloqueador. Ultrapassa-se o medo, enfrentando-o, é certo. Mas, se não se tiver conhecimento do que se está a enfrentar será, à partida, uma batalha com fortes probabilidades de ser perdida. Falar-se com ligeireza do assunto, não é uma prova de coragem como às vezes parece querer ser demonstrado. Também não se deve permitir que, num contexto de incerteza, o medo tolde a possível clareza da decisão que é urgente tomar. Por isso, nestes casos, a prudência, a prevenção e a antecipação devem ser incluídas na ponderação. A 6 de março foi publicada no jornal “Expresso” uma crónica assinada por Ana Paula Dias que descreve a sua experiência, enquanto residente em Macau, na contingência deste novo tipo de coronavírus. Fiquei siderada pela forma construtiva, comunitária, com que o território e as pessoas enfrentaram o desafio. Recomento a sua leitura: “Houve e há um espírito de colectivismo na cultura asiática que chega a ser tocante – cada um é responsável por todos e proteger-se a si é proteger a comunidade.” Esta terá sido, decerto, uma ajuda preciosa para que Macau só tenha contabilizado uma dezena de casos e não existam registos de novos infectado há um mês.

Ilustração: Pedro Emanuel Santos

Comentários