Diário do Alentejo

#bejacentrodosul, uma amiga da coesão
Opinião

#bejacentrodosul, uma amiga da coesão

Gavino Paixão, jurista

24 de fevereiro 2020 - 12:00

Aproveitando a agitação provocada pela cimeira dos “Amigos da Coesão”, que juntou mais de 17 líderes de estados-membros da União Europeia, e que oportunamente se reuniu em Beja no passado dia 1, a memória brindou-me com recordações de há alguns anos, ecoando com enorme nitidez os anseios, desejos e lutas de muitos baixo-alentejanos sobre o famoso “Triângulo do desenvolvimento” que projetava o porto de Sines, o aeroporto de Beja e o mediático “Construam-me porra!” da barragem de Alqueva como elementos fundamentais para o desenvolvimento da região do Baixo Alentejo.

 

Quem teve oportunidade de acompanhar estes anos certamente lembrará que eram poucos os que acreditavam e muitos os que afirmavam a insanidade e inconsequência de tais propostas, apresentando argumentos curiosamente iguais ou muito semelhantes aos apresentados por aqueles que acham que a região não progrediu em nada, não conseguiu criar critérios de coesão que ajudassem no desenvolvimento da região, se lamentando apenas do esvaziar de Beja em benefício de Évora. Embora alguns não queiram reconhecer, a verdade é que Portugal se desenvolveu, o nosso país mudou e a nossa região também mudou, e de forma muito expressiva.

 

O Baixo Alentejo é hoje uma região mais coesa graças à concretização da barragem de Alqueva e do empreendimento de fins múltiplos a ela associado, da efetiva construção do aeroporto de Beja e das valências impulsionadas no porto de Sines. O “Triângulo do desenvolvimento” tornou-se uma realidade incontornável, permitindo uma agricultura e produtos de excelência, com crescimento invejável dos índices económicos da região. Tal realidade deve ser assumida sem medos ou receios, pois defender o contrário é mentir aos baixo-alentejanos.

 

Não reconhecer uma maior coesão no desenvolvimento da nossa região é apenas continuar a apostar na ladainha derrotista daqueles que, há longos anos, sempre desejaram que nada se fizesse apenas para poderem alimentar apoios e interesses pessoais ou coletivos variados. Negar esta realidade é defender a época em que investimentos públicos, mas sobretudo privados, eram indesejados e praticamente inexistentes.

 

Hoje, importa recordar queAlentejanos são os mais produtivos em Portugal. O Litoral e o Baixo Alentejo estão entre as regiões mais produtivas do País e o Alentejo Central na metade de baixo da tabela. O Alto Alentejo está na mediana” (“Jornal de Negócios”). Embora esta nova realidade seja consequência dos instrumentos de coesão que paulatinamente foram sendo fortalecidos na região, não podemos ignorar que muito ainda resta por fazer. Reconhecer que temos um Baixo Alentejo mais coeso e desenvolvido, sim! Defender que nada mais há para fazer, não!

 

As realidades alteram-se, os desafios e as soluções são outros, as dinâmicas do desenvolvimento vão exigindo outras apostas e investimentos diversos. A nossa capacidade reivindicativa deve estar sempre presente, independentemente de oportunismos e sempre pensando nos benefícios da região e das suas populações. Este “desassossego” pelo Baixo Alentejo deve “desconstruir uma falsa perceção de interioridade que desvirtua o potencial destes territórios. É urgente afirmar pela positiva o interior do País, impondo-se políticas públicas orientadas para este fim”, conforme soube ser feito pelo presidente da Câmara de Beja, Paulo Arsénio.

 

Oportunamente, Paulo Arsénio, através das declarações públicas e pelo documento político entregue ao primeiro.ministro, António Costa, soube “apostar no desenvolvimento económico inteligente e no reforço das atividades em rede, no País e entre Portugal e Espanha, criando assim o ambiente e as condições favoráveis à fixação de pessoas, e assegurar uma nova vitalidade e uma prosperidade sustentável nas regiões do interior”. Devemos todos pedir a conclusão do IP8/A26 até Espanha, exigir investimentos na eletrificação da ferrovia, melhorando as acessibilidades e reforçando a coesão regional.

 

Mas não argumentando, erradamente, que nada tem sido feito durante todos estes anos ou que os diversos governos nunca investiram em nós, que os privados apenas querem o lucro advindo do intensivo e não de uma agricultura sustentável. Mas sim demonstrando que a autoestrada até Espanha tem de ser uma realidade para escoar os cerca de 120 mil camiões de carga que anualmente passam pelo Rosal de La Frontera. Mas sim demonstrando como a ferrovia e o aeroporto de Beja são fundamentais para escoar as nossas frutas, os excelentes azeites, vinhos e outros, cujas exportações crescem assustadoramente, dando músculo aos nossos indicadores económicos regionais, reforçando a Coesão económica e social do Baixo Alentejo.

 

 

#centralidadedosul vai ser uma realidade incontornável, tal como o “triângulo do desenvolvimento” já o é, para tal vai ter de afirmar novos desafios, saber encontrar novas realidades. Com inteligência nas lutas e verdade nas soluções, os baixo-alentejanos saberão defender e reconhecer aqueles que realmente desejam a coesão territorial e o desenvolvimento sustentável do Baixo Alentejo.

 

Nota As citações são retiradas do Programa Nacional para a Coesão

 

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