Diário do Alentejo

Bairros e lugares
Opinião

Bairros e lugares

José Saúde, jornalista

12 de fevereiro 2020 - 16:25

Da entusiasmante espiritualidade procedente dos antigos bairros e lugares existentes no mais recôndito lugar deste universo terrestre, sobressaem laivos de intensos movimentos de uma juventude que incutia no seu espírito a funcionalidade capital para a prática desportiva. Os movimentos inseridos em corpos joviais que apelavam ao seu bem-estar, conduz-nos a fantásticas ações onde a finalidade passava pela afinação da massa corporal no mais incauto catraio.

 

Os bairros e lugares assumiam-se como profícuos espaços de jovens que despertavam para a vivacidade desportiva. Alguns descalços, outros com os pés resguardados com um par de sapatos comprados com restos da jorna semanal familiar e envergando vestes copiosamente lavadas em águas de barrancos das redondezas do povoado, os miúdos dedicavam-se de corpo e alma ao êxtase de uma correria que lhes proporcionava prazer.

 

Com o imutável evoluir do tempo constatou-se a imensurável realidade de privilégios adquiridos que transportou a comunidade desportiva para um púlpito surpreendente. Regresso aos tempos de infância e dou por mim como um dos muitos rapazinhos que palmilhavam as antigas ruelas de Beja integrando um grupo de companheiros que se predispunham a disputar mais uma jogatana com equipas de outros bairros e lugares citadinos. Recordo os ardilosos dérbis com a malta da Praça de Touros, do arrabalde, do Largo das Alcaçarias, do Largo de São João, do Bairro da Apariça, do Terreirinho das Peças, ou uma visita, a pé, à Boavista, de entre outros competidores que proliferavam pela cidade e seus arredores. Desafios que se prolongavam por manhãs ou tardes infindáveis, mas onde literalmente prevalecia a amizade.

 

É óbvio que por vezes nem tudo era um mar de rosas, havia desaguisados, mas com a cortesia das pazes feitas no final da contenda, assistia-se depois ao inevitável hastear de bandeiras brancas porque a afeição entre a miudagem falava mais alto. Dessa insaciável camaradagem onde a bola debitava infinitos prazeres, registava-se a saída de atletas para os clubes da urbe bejense, Desportivo e Despertar, que se alimentavam de jogadores oriundos dos bairros e de lugares que a velha Pax Júlia fabricava naqueles famosos jogos de rua.

 

As equipas principais dos emblemas locais não descuravam apresentarem em campo uma turma formada tendencialmente com a chamada prata da casa. Estes valores desportivos foram paulatinamente conhecendo outras veracidades e o fenómeno futebolístico perdendo as crenças de outrora. Para trás ficaram subscritas páginas de glória onde o futebol vadio foi um elemento preponderante para a chegada de novos craques a uma modalidade que o povo cedo abraçou. Resta deixar um bem-haja ao trabalho desenvolvido pelos atuais dirigentes que a muito custo lá vão levando a Carta a Garcia. Os tempos são outros e viraram para subsequentes preocupações.

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