Diário do Alentejo

PSD
Opinião

PSD

Luís Godinho, jornalista

18 de janeiro 2020 - 09:00

Rui Rio é autenticamente feliz. Foi ao ouvir uma conversa de Júlio Machado Vaz na rádio que cheguei a esta conclusão definitiva. Lembrou-se o psiquiatra de citar uma “frase deliciosa” de Carlos Drummond de Andrade: “Ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade”. Lembrou-se ele do poeta brasileiro, nome maior da literatura lusófona. Lembrei-me eu de Rui Rio, homem feliz apesar dos 27,7 por cento de votos nas últimas legislativas; homem manifes- tamente feliz mesmo obrigado a disputar uma inédita segunda volta para a presidência do partido; feliz e brincalhão ainda que alguns co- mentadores como José Manuel Fernandes, ex-diretor do “Público”, olhem para o PSD como um “partido diminuto com um eleitorado encolhido, uma militância enquistada e dependente”. Felicidade autêntica, portanto. Felicidade que provavelmente continuará depois de conhecido o resultado da eleição que amanhã irá ditar o futuro próximo do PSD. 

 

Entre Rui Rio, a quem a vantagem obtida na primeira volta deu redobrada confiança, e Luís Montenegro, ainda esperançado em conquistar uma vitória no sprint final, há uma evidente diferença relativamente à forma como vivem o PSD. A semanas das últimas legislativas, convém recordá-lo, Rui Rio não hesitou em descrever o partido que dirige como “social-democrata, somos um partido do centro”, acrescentando que, desde a sua fundação, nunca o PSD foi “um partido de direita”. E se é verdade que Sá Carneiro pretendeu inscrever o então PPD na Internacional Socialista, casa-mãe dos partidos social-democratas, só não o conseguindo devido à influência internacional de Mário Soares, não é menos verdade que o fez mais por oportunidade tática do que por convicção ideológica, e que presidentes como Cavaco Silva, Durão Barroso, Pedro Santana Lopes ou Pedro Passos Coelho só com muita criatividade podem ser catalogados como social-democratas. 

 

Se o campo de Rui Rio é, segundo o próprio, o do centro, o de Luís Montenegro pende noutra direção: “Nós somos um partido do centro e do centro direita, somos um partido liberal e social”. Note-se que a palavra liberal, dita neste contexto, deve também ela ser lida com atenção. 

 

O resultado da eleição de hoje é irrelevante para o Bloco, para o PCP e para o PS, pelo menos enquanto continuarem a ser possíveis soluções de governabilidade à esquerda, como aconteceu com a aprovação na generalidade do Orçamento do Estado. Mas o resultado da eleição é também irrelevante para a direita. Do Chega à Iniciativa Liberal (IL), do CDS ao Movimento 5.7 (fundado por Miguel Morgado, ex-assessor de Passos Coelho, e que conta nas suas fileiras com pessoas como o historiador Rui Ramos ou Carlos Guimarães Pinto, fundador da IL), todos odeiam Rui Rio na medida em que um PSD mais disponível para acordos de governo os afasta do poder. E todos odeiam Luís Montenegro, talvez ainda com maior intensidade, já que um PSD mais à direita os confina à irrelevância. É, pois, aos militantes e aos eleitores do PSD que estas eleições interessam, na medida em que ajudarão a formatar o partido no médio prazo e a definir os parâmetros da oposição ao governo de António Costa.

Comentários