Diário do Alentejo

Mariana
Opinião

Mariana

Luís Godinho, jornalista

17 de junho 2019 - 11:45

Num artigo publicado em 2016, Noémi Marujo, Jaime Serra e Maria do Rosário Borges, doutorados em Turismo e investigadores do Centro Interdisciplinar de História, Culturas e Sociedades da Universidade de Évora, discorrem sobre o conceito de autenticidade no que se refere ao setor turístico. Faço desde já uma declaração de interesses: sou amigo da Noémi e do Jaime Serra, de quem já me socorri para a realização de uma grande reportagem. Essa amizade não me impede de considerar que se trata de um trabalho muito interessante, cujas 14 páginas – sim, são apenas 14 páginas – deveriam ser de leitura obrigatória para quem tem responsabilidades políticas nestas matérias.

 

Sendo abundantes as referências bibliográficas, citam, por exemplo, Dean MacCannell, segundo o qual o turista procura a autenticidade porque esta tornou-se um bem escasso nas sociedades modernas, transformando-se no que o sociólogo John Urry define como “espécie de peregrino contemporâneo, procurando autenticidade em outras épocas e em outros lugares, distanciados da vida quotidiana”. De acordo com os autores do estudo, o turismo cultural assenta em dois pilares: o primeiro surge associado à motivação do turista para visitar um determinado lugar; o segundo centra-se na satisfação pessoal obtida com a visita.

 

“O turista cultural é, nomeadamente, aquele que procura o conhecimento, a aprendizagem e a satisfação da sua curiosidade em relação ao património que visita”. Quanto mais autêntico, no sentido de original e único, for um determinado produto turístico, mais enriquecedora será a experiência para quem visita esse património. E quanto mais valiosa for essa experiência maior será a capacidade de atrair outros turistas, gerando significativas mais-valias para os agentes económicos e dando um contributo significativo ao desenvolvimento local. “O turista cultural movimenta-se à procura de ícones que caracterizam a identidade local e a memória coletiva de um povo”, escrevem os autores.

 

Outro indicador igualmente importante é o que resulta de um estudo efetuado em 2017 pelo Instituto de Planeamento e Desenvolvimento do Turismo, segundo o qual a autenticidade é a característica mais valorizada por 80 por cento dos turistas.

 

Visto deste prisma é difícil de compreender as razões pelas quais só agora a história de Mariana Alcoforado começa a ser efetivamente valorizada enquanto elemento-chave para a promoção turística da cidade de Beja. Soror Mariana nasceu em Beja, aqui morreu e foi no Convento de Nossa Senhora da Conceição que viveu a sua intensa história de amor, dali enviando as cinco “Lettres Portugaises” dirigidas ao marquês Noel Bouton de Chamilly e que se tornaram num clássico da literatura mundial, com traduções em diversos idiomas. Para conhecer a história e os espaços de Mariana é preciso vir a Beja. É por isso que só pecam por tardias iniciativas como a exposição que se encontra patente no museu, o Festival B ou o congresso internacional agendado para o final do ano.

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