Diário do Alentejo

A Educação
Opinião

A Educação

Francisco Marques, professor

14 de junho 2019 - 16:40

Falarmos sobre o estado atual da educação ganha uma importância acrescida dada a aposta atual na formação e qualificação de uma forma geral e na formação e qualificação de jovens e adultos de uma forma mais particular. Contudo, a importância de abordar o estado da educação ainda consegue superar essa dimensão se pensarmos na educação numa perspetiva de formação para a vida ativa, ou seja, numa perspetiva de emprego subsequente.

 

Parece-me que estes conceitos podem ser considerados como etapas de um processo necessário e imprescindível na vida de todos nós. Etapas que, mesmo com pontos comuns, devem ser vivenciadas em estádios de desenvolvimento específicos. Se considerarmos como exemplo o emprego, conseguimos facilmente perceber que essa etapa só faz sentido a partir da vida adulta, e até talvez por isso mesmo se tenha criado uma lei de proteção das crianças face à exploração laboral infantil. Penso que posso então referir que cada conceito, mesmo com os aspetos semelhantes que acaba por partilhar com outros conceitos, também tem outros aspetos, específicos e próprios, que o tornam único. Posso ainda acrescentar que, entre os três conceitos, um dos aspetos partilhados é o facto de existir apenas uma sequência lógica entre eles: a formação deve ser precedida da educação e permitir a inclusão no mundo do trabalho, ou seja, deve ser antecessora do emprego.

 

Neste artigo pretendo abordar apenas o conceito de educação e deixar os próximos dois conceitos para serem tratados, também individualmente, em dois artigos que se seguirão. Assim, começo por referir que para mim a educação deve ocorrer em duas fases: a fase do ensino pré-escolar e do ensino básico; a fase do ensino secundário.

 

Estas fases da educação deverão servir de base à formação que deverá surgir em seguida, quer ao nível do ensino secundário através de cursos profissionais, quer ao nível do ensino superior, através de cursos de licenciatura, mestrado e doutoramento. Estas duas fases correspondem aos níveis de ensino em que está estruturado o sistema de ensino em Portugal: ensino pré-escolar, ensino básico (1.º, 2.º e 3.º ciclos) e ensino secundário. Com o alargamento da escolaridade obrigatória até ao 12.º ano ou até aos 18 anos de idade, as duas fases que apresento devem ser frequentadas por todas as crianças e jovens portugueses.

 

Na primeira fase (na fase do ensino pré-escolar e do ensino básico) as crianças deverão contactar com o máximo de áreas possível de forma a poderem experimentar várias temáticas e abordar diversas matérias. Através de formas de aprendizagem ativas e criativas que lhe permitam vivenciar experiências que possam contribuir para uma melhor assimilação de conceitos e conteúdos básicos, as crianças vão criando os alicerces para a construção da sua personalidade e do seu ser enquanto pessoa individual e única.

 

É nesta fase que os alunos deverão poder contactar em simultâneo com um conjunto de matérias que devem integrar um currículo comum e que facilitem a capacitação para determinadas áreas estruturantes como a fluência e o conhecimento da língua, o desenvolvimento do pensamento lógico-matemático, o conhecimento do meio ambiente envolvente (científico, histórico e cultural), etc.

 

Para além do que referi antes, deve ser num primeiro momento desta fase, sensivelmente até ao 6.º ano de escolaridade, que deve ser facultado às crianças o contacto com áreas desportivas e artísticas. Estas áreas, para além de poderem servir para as sensibilizar para atividades de caráter mais associado à componente lúdica do seu processo educativo, podem também facilitar o desenvolvimento de competências relacionadas com a cooperação e a colaboração, o espírito de equipa e a entreajuda, a competição saudável, entre outras. 

 

Através da vivência de situações em que as crianças trabalham, de uma forma intrínseca, mas dissimulada, este tipo de valores, podem simultaneamente desenvolver o seu sentido de concentração e organização, criando hábitos, métodos e rotinas que podem usar dentro e fora da sala de aula. Consequentemente, poderão vir a ter melhores resultados na medida em que estas regras e condutas poderão até ser vistas como medidas de promoção do sucesso, uma vez que poderão ser facilitadoras da assimilação do conhecimento. É ainda de salientar que estas podem ser áreas a trabalhar como forma de estimularem o sentido ético e moral, assim como o sentido estético e contribuir para a formação do conceito de belo.

 

É depois dos alunos concluírem com sucesso o seu percurso ao nível do ensino básico que deverão fazer as suas escolhas quanto ao seu futuro, quer seja através da passagem para uma segunda fase, ainda ao nível de uma etapa no âmbito da educação (a fase do ensino secundário), ou através de uma via mais tecnológica e profissionalizante, que os transporta para uma nova etapa, a etapa da formação, escolhendo um curso profissional que vá ao encontro das suas motivações e dos seus interesses, que entretanto emergiram.

 

Debrucemo-nos então agora na segunda fase da educação (na fase do ensino secundário). Nesta fase, os jovens, já possuem uma maturidade alicerçada pelos saberes adquiridos durante a primeira, ou seja, nos saberes que adquiriram ao longo da frequência do ensino básico, mas ainda não estão preparados para frequentar os cursos que escolheram. Assim, é necessário aprofundarem os conhecimentos que já assimilaram e adquirirem novos conhecimentos que os preparem para a frequência com sucesso dos cursos por que optaram. Esta etapa da educação dos jovens poderá funcionar como que uma etapa propedêutica para o ensino superior e deverá permitir a frequência de áreas específicas que estejam relacionadas com as tipologias de cursos superiores existentes.

Comentários