Diário do Alentejo

Rescaldo das Europeias
Opinião

Rescaldo das Europeias

Jorge Rosa, presidente da Câmara de Mértola

10 de junho 2019 - 10:00

No rescaldo do ato eleitoral último, para os lugares na Europa, e após alguns dias em que muito se disse e escreveu, quero partilhar com todos os leitores a minha opinião.Em relação às vitórias ou derrotas partidárias deste ato eleitoral, claramente o Partido Socialista foi o grande vencedor. Foram igualmente vencedores, em comparação com as eleições europeias de 2014, o Bloco e, não sei como, o PAN. Numa situação mais ou menos idêntica ficaram o PPD/PSD e o CDS, dado que conseguiram a mesma percentagem e o mesmo número de votos separados que haviam conseguido em coligação em 2014. E existe claramente um perdedor, a coligação PCP-PEV (CDU), que fica reduzida a 6,90 por cento, quando em 2014 obteve 12,70 por cento e, portanto, claramente em queda. Factos são factos.

 

De referir ainda os resultados regionais neste distrito, onde o Partido Socialista se sobrepôs, com claro destaque, para todos os outros partidos, obtendo a maioria em 13 dos 14 concelhos, revelando uma tendência de voto que tem vindo a ganhar expressão, e que é reveladora da intenção dos eleitores nas eleições legislativas, sendo que nestas a diferença percentual deverá ser substancialmente maior. 

 

Espero que esta tendência possa dar maioria ao PS, e que, caso seja necessário refazer a “geringonça”, que seja com a restante esquerda, mas sem o PAN, pois, como socialista rural, não suportaria ter o meu partido a trabalhar coligado com o partido anti mundo rural, anti tradições rurais e anti atividades económicas rurais, sendo igualmente o partido que não tem outra ideologia que não cativar simpatias pelo radicalismo de posições.

 

É, no entanto, preocupante que, em 9 344 479 eleitores, apenas 3 300 607 tenham tido interesse em votar. Estes representam apenas 35,32 por cento, onde ainda 140 779 são brancos e 88 883 são nulos. Ou seja, menos de um terço dos eleitores portugueses decidiu por todos quais os 21 lugares que nos representaram na Europa. E isto é uma clara derrota para todos os partidos, e para a democracia portuguesa. Podem alguns desculpar-se, as eleições europeias são sempre assim, ou isto nas Europeias já é tradição, mas isso não desresponsabiliza quem não cativou, quem não soube apelar ao patriotismo dos eleitores. Em 2014 já havíamos ficado abaixo da média da União Europeia, pois tivemos 33,67 por cento de votantes contra 42,61 por cento, e nesta eleição ficámos ainda piores, com 30,73 por cento, quando na União Europeia souberam cativar mais os eleitores e obtiveram uma média de 51,00 por cento. Esta diferença é responsabilidade das candidaturas em Portugal. De todas.

 

É responsabilidade dos partidos desde logo pela escolha dos candidatos, que não cativaram.

 

É responsabilidade dos próprios cabeças de lista, pois não souberam explicar aos eleitores a importância do Parlamento Europeu e a importância de votarmos nestas eleições. E não nos explicaram nem divulgaram os seus programas eleitorais, nem as medidas, nem os posicionamentos em importantes matérias. Nos debates a que assisti, vi discutida a política nacional e as opções nacionais. Foram debates pré-legislativas, como se estas eleições fossem para eles um aquecimento para as próximas eleições de outubro. Então e a Europa? Ficou praticamente de fora dos discursos e opções.

 

Acrescento ainda que, salvo uma ou outra exceção, a esmagadora maioria dos eleitores não sabe o que fazem os deputados europeus, não conhecem os assuntos que abordam e que discutem, e nem percebem a importância, porque também não sentem na sua vida a aplicação das medidas discutidas. É vital que se transmita às pessoas a função dos deputados e do Parlamento Europeu.

 

Apesar de tudo, e apesar de termos votado efetivamente menos de um terço dos eleitores, os partidos cumprem os seus objetivos, ou seja, elegem na mesma os 21 representantes. Quer vote um terço, ou menos, os 21 estão certos. Se tivessem alguns destes lugares dependentes das votações efetivas, e da participação dos cidadãos no ato eleitoral, tenho a certeza que se empenhavam mais para diminuir a abstenção e conseguir maiores votações. Mas como isso não acontece, não precisam de se esforçar muito, os 21 estão certos.

 

E no final, depois das contagens, assobiam para o lado, pois o que conta é perceber se têm mais umas dezenas de votos já consideram vitória, se ficam a uns números percentuais da segunda força mais votada é uma grande vitória. Mas a preocupação devia ser com os seis milhões e 44 mil votantes que não se interessaram, que não foram votar, e com os 229 500 brancos ou nulos que, no conjunto, quiseram demonstrar insatisfação, desinteresse. Que não se importam, porque acham que quem quer que seja não merece o seu voto. 

 

O que interessa é trabalhar os números para poder “cantar” vitória e sobre a abstenção encolher os ombros e dizer é “tradição”…Ou então o problema é meu, porque sou muito exigente!

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