Diário do Alentejo

Eleições Europeias
Opinião

Eleições Europeias

Rui Marreiros, gestor

04 de junho 2019 - 09:20

Glória para os vencedores, honra para os vencidos e para a abstenção, que futuro?

 

Decorreram nesta semana eleições para o Parlamento Europeu, “o povo decidiu, está decidido”. Sem grandes dúvidas ou resultados poucochinhos, sempre sujeitos a intrincadas interpretações. O Partido Socialista ganhou a nível nacional, regional e local como comprova o “mapa rosa” que continua a espelhar a vontade dos eleitores. Ganhou o partido mais votado, com um resultado expressivo, reconhecidamente ainda mais positivo por ser o partido que tem, neste momento, nas suas mãos, o delicado exercício da governação. É necessário regressar a 1999, ao PS e a António Guterres, para se encontrar um feito semelhante a este, em que o partido do governo ganha as eleições europeias. Ficou assim claro que os eleitores não quiseram usar o voto de protesto, reforçando a confiança no PS, que saiu, por isso, ainda mais vencedor.

 

Mas, “nem tudo são rosas”. Apesar de ficar claro que o sistema democrático está vivo, que reage aos estímulos, abrindo novas tendências, sancionado outras ou transferindo eleitorados, há uma outra vitória, talvez a única unanimemente indesejada, mas que acabou por deixar a sua marca como, provavelmente, o melhor pior resultado de sempre. Falo, naturalmente, da abstenção. Não só nesta, mas em todas as eleições, o crescente fenómeno da abstenção, o afastamento dos eleitores das decisões que têm interferência direta nas suas vidas é francamente preocupante. Com esta vitória da abstenção todos perdem. Perde a Europa, perde o País, perdem os cidadãos, perde o sistema político, tudo temos de fazer para que não perca também a democracia.

 

Há já algum tempo, no âmbito de uma intervenção num congresso do Partido Socialista, defendi a tese de que a democracia, ao nível do poder local, apesar de consolidada, ainda inspirar cuidados, situação que tem paralelo em todos os demais níveis de democracia. Referi-me à necessidade da participação ativa dos cidadãos, do seu verdadeiro envolvimento nas decisões mais importantes da sua aldeia, da sua vila, da sua cidade, do seu concelho, do seu distrito, do seu país. Acredito numa verdadeira política de proximidade e numa verdadeira democracia representativa. É absolutamente fundamental trazer para a vida política ativa pessoas novas, com novas ideias e novas atitudes, enquanto criamos formas de estimular uma atitude cívica participativa para que cidadãos mais ativos, mais esclarecidos e mais interessados, possam contribuir com a sua opinião, expressa pelo voto consciente e informado.

 

Ganhar as pessoas, para ganhar o futuro, nunca fez tanto sentido. É reconhecidamente um processo difícil, árduo, que nunca estará terminado e que carece de ser reinventado e atualizado a cada momento. Como aproximar o cidadão das decisões, como fazer-nos sentir que o nosso voto conta mesmo, que a nossa opinião influência e que temos nas mãos o poder que nos é conferido pela democracia de ajudar a conduzir os nossos destinos. Este deverá ser o nosso legado para as próximas gerações. Caberá agora a todos os partidos a responsabilidade de interpretar os resultados e criar condições para vencer talvez o pior adversário da democracia, a abstenção.

 

Nesta matéria, o PS, pela sua história de partido democrático, progressista e plural, mas também pelos votos de confiança que lhe têm sido renovados pelos portugueses, tem aqui uma responsabilidade acrescida. Estou convicto de que vai estar à altura do desafio, como sempre esteve no passado, ao lado de todos os portugueses, do lado certo da solução, para reforçar o poder de decisão de todos nós e nos aproximar de um sistema de governação mais representativo e, por isso, mais eficaz.

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