Há palavras que mesmo juntas, atadas com vírgulas, predicados verbais e nominais, entoações, conjunções e pontos finais, não dizem nada. São apenas sons produzidos pelo aparelho fonador, vocábulos sem substância, sons que morrem antes de conseguirem ser interpretados. As bocas mexem-se, os lábios articulam, mas não há comunicação.
O texto dito é um rio que não corre, um vento que não se aguenta no ar, uma língua muda. Há palavras que saem da boca aos trambolhões, tropeçam na sua falta de significado, mirram como balões vazios, entristecem como pássaros sem asas. Logo as palavras, essas chaves de todas as portas do mundo, que deviam ser decalques da alma, do ânimo, do fogo incandescente da existência, ferramentas contra a ignorância, símbolos de uma vontade de intervir e fazer a diferença, golpes de asa!
As palavras deviam ser como luzes a indicar caminhos, faróis a guiar pessoas perdidas, sementes a brotar, doces gulosos que apetece repetir, fonte onde se mata o desconhecimento. Há conceitos com tantos sinónimos e mesmo assim estão sozinhos, tristonhos, incapazes de criarem rumos e vida, martelos a pregarem o mesmo prego, uma vez e outra, numa espiral de tédio, indiferença e desconsolo. Palavra mole em realidade dura, bate, bate, mas não fura.