A minha insónia expulsou-me da cama. Era noite funda e não nos entendíamos, é frustrante discutir com uma insónia, ela não tem corpo, nem voz, no nosso confronto só há silêncios, inquietações e olhos abertos, querer dormir e não conseguir é um desespero noturno, eu sei que a culpa é apenas minha, sou sujeito e objeto deste desentendimento porque a minha insónia não é outra coisa a não ser eu que não sossego.
Era ainda noite quando me levantei, a casa dormia, a minha casa só acorda com o cheiro a café, antes disso há uma preguiça espalhada pelo chão. Levei a insónia nos olhos, a insónia vive dentro dos olhos quando não consigo dormir, como se costuma dizer, os olhos são o espelho da insónia.
Para não acordar a casa antes de tempo fui para o quintal e encostei-me a uma parede para ver morrer a noite. A noite morre quando a aurora espeta facas de luz na lua e desse infalível golpe começa a escorrer claridade pelas paredes do céu e a antemanhã pede aos pássaros que gritem. E os pássaros não se fazem rogados, os pássaros têm uma felicidade sincera quando cantam, os pássaros acordam contentes e descansados, os pássaros não têm insónias como eu tenho.
A alvorada é um balão a encher-se lentamente de azul e o sol é uma flor amarela a nascer do caule do horizonte. É assim que as pessoas com insónias dizem que nasceu o dia. Depois fui fazer café e acordei a casa.