Diário do Alentejo

Erro
Opinião

Erro

Vítor Encarnação, professor

23 de dezembro 2025 - 08:00

Filho, não há ação nenhuma que não tenha consequências, tudo o que se faz num determinado momento reflete-se a seguir, não te esqueças que o presente é sempre a ignição do futuro. Nem sempre a tua idade te permite fazer previsões ou medir as repercussões, nem sempre a tua natural imaturidade te dá a capacidade de avaliares os teus atos e deles tirares conclusões. A vida coloca-nos perante imprevistos, encruzilhadas, necessidades, tentações, desesperos, nem tudo é fácil de controlar, muito menos quando temos ainda uma existência tão curta. Eu sei que tu ainda não viveste o que eu já vivi e portanto não posso exigir que vejas a vida como eu vejo, seria pedir-te demasiado, seria antecipar aquilo que só a lei do tempo nos dá. Não ordeno que não erres, o erro está presente, é um caminho que temos de trilhar, porque o erro é a ignição da correção. Mas não devemos ter medo de encarar o erro, temos de o admitir, de o pendurar na nossa cara, nas nossas palavras, nas nossas atitudes, o erro é velhaco, só se dá por vencido se o desnudarmos, mas para o desnudarmos temos de nos desnudar também, e isso custa muito, nem todas as pessoas estão preparadas para tal transparência. Filho, compreendo a tua falha, mas cumpre-me a mim, que tenho uma existência mais longa, ser o primeiro a não purificar o teu erro apenas porque és meu filho. Precisamente por isso, por te querer muito, é que eu não devo arranjar subterfúgios. Não, não vou vestir o teu erro com roupas feitas de presunção, de básica e gratuita proteção paternal, de razões que a própria correção desconhece. Filho, quando erramos devemos assumir e penar um bocadinho. Depois, sim, depois estarei cá à tua espera para te abraçar. 

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