Diário do Alentejo

“Zunzuns  das Portas  de Mértola”
Opinião

“Zunzuns das Portas de Mértola”

José Saúde

14 de dezembro 2025 - 08:00

Numa fértil pesquisa ao baú das recordações que marcaram outrora o diário bejense e onde se escondem relíquias que cativaram o mais plebeu leitor, revejo uma coluna no “Diário do Alentejo” (“DA”) que encantava o leitor tendo em conta o conteúdo das bisbilhotices registadas: “Zunzuns das Portas Mértola”. O autor dessas linhas, escritas com sagacidade e rigor de observação, era o saudoso jornalista José Moedas. O intuito da narrativa passava por mexer com uma plebe sequiosa de novidades que, à época, fazia furor numa reprimida comunidade. E diga-se, em abono da verdade, que eram giras essas narrações. O malabarismo com que o Zé Moedas trabalhava a conjuntura da dialética era obra de mestre. A sua redação, fora do jornal, era normalmente a Ginjinha, defronte à “meia-laranja”, em pleno coração da urbe de Beja. Comentava-se, em surdina, que o senhor Secundino, proprietário do espaço, seria uma das suas fiéis fontes de informação. Os clientes, sempre ávidos por saborear mais uma “carocha” e num corrupio constante, lá iam protagonizando férteis opiniões, não obstante quer estas fossem, ou não, meias verdades. Uma dica aqui, e uma outra acolá, servia a preceito as suas intenções para debitar no jornal uma esplêndida notícia que motivava a curiosidade do povo. Sentado a uma das mesas do exíguo lugar, normalmente, aquela que situava ao lado direito junto ao balcão, o Zé, sempre de ouvido à escuta ao falatório de gentes que chegavam e que partiam, lançava o gracejo ao senhor Secundino, sendo que este, com a resposta à ponta da língua, gizava logo as traves mestras para uma comunicação que por vezes se dissiparia no tempo. A Ginjinha era um local onde as tertúlias desportivas ocorriam amiúde. O desporto apresentava-se como um assunto que não passava ao lado dos “Zunzuns das Portas de Mértola”. Naquela tertúlia o nosso primoroso escriba ousou desafiar a corte e lançou para a maralha indubitáveis notícias desportivas vindas a público no “DA”. Umas que se afirmariam como reais e outras que ficavam pela imaginação do divino criador. Real é o facto que o Zé, na década de 1960, foi, à socapa, um efémero técnico do Desportivo de Beja quando a equipa militou na segunda divisão nacional, uma boa nova que não chegou a fazer parte das utópicas simpatias dos seus “zunzuns”. De facto, o Zé assumia, já nesses recuados tempos, a sua obsessão política, logo a elaboração da sua escrita escondia-se nas “entre linhas”, pois, o importante era defender a sua honra e dom na elaboração dos textos, onde ele fora sempre hábil. Assumiu-se como correspondente do jornal “A Bola”, sendo o sucessor de Melo Garrido naquele jornal nacional, passando-me, então, o testemunho, o qual muito me honrou. Fica a eterna lembrança e a sentida homenagem a um ícone do jornalismo bejense de nome José Moedas.

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