Diário do Alentejo

Zezinho,  lembras-te?  O que ontem fomos e o que hoje somos!
Opinião

Zezinho, lembras-te? O que ontem fomos e o que hoje somos!

José Saúde

11 de novembro 2025 - 08:00

“As árvores morrem de pé”, profetiza uma obra que outrora fora tema para peças de teatro, a que acresce, também, produto para noites televisivas. Palmira Bastos deu alma a uma temática que todos encantou. E se concluirmos que “as árvores morrem de pé”, nós, os humanos, lá vamos protelando o nosso fim, erguendo os nossos corpos ao vento, calcorreando as velhas pedras da calçada e revendo, quiçá em pensamento, o passado. Reflito, faço uma pausa, recuo nas épocas e sintetizo que somos um pequeníssimo grão de areia num universo infinito que se dilui facilmente na imensidão de um cosmos, onde os nossos inevitáveis fins estão traçados. Encontro, não montado no seu robusto NSU, mas a pé, pelas ruas da cidade de Beja, um antigo jogador de futebol que dantes lhe deu fama, não só a nível regional, como nacional, numa arte em que o seu empenho em campo fora extraordinário. Cabisbaixo, só, com um cãozinho levado pela mão, e com uma corda atada ao pescoço do seu fiel amigo, segue as suas caminhadas matinais livres do meio ambiente que o rodeia, onde o transeunte passa despercebido sem que a sua presença seja conhecida. Vergado pelo peso da idade, 85 anos, faz 86 no próximo dia 4 de dezembro, José Martins Eugénio, popularmente conhecido por Zezinho, foi dantes um atleta notável no cosmos futebolístico. Reparo agora na sua fisionomia humana, porém, fora dantes um génio inquebrável na sua força física no interior das quatro linhas, um jogador que impunha aquela velha máxima “antes quebrar que torcer”, embora o seu formato de atuar roçasse sempre a rijeza. Tive o enorme prazer de o ter como companheiro de balneário do Desportivo de Beja e, logicamente, na equipa principal. Fomos promotores de enormes alegrias, de tardes maravilhosas em que proliferavam as vitórias, de companheiros com os quais convivíamos diariamente, alguns deles já ficaram pelo caminho, e recordo a época de 1969/1970, tinha eu 18 anos quando cheguei ao emblema bejense, sendo o espanhol Suarez o jogador/treinador, e ficarmos em segundo lugar na série F, no campeonato nacional da terceira divisão, o primeiro foi o Cova da Piedade, equipa que subiu, restando a certeza que comandámos a classificação ao longo de variadíssimas jornadas. Relembro as suas entradas austeras à bola, não maldosas, e a sua forma airosa como se desculpava com uma entrada mais severa ante o adversário, enfim, o Zezinho, homem bom, rubricou páginas fulgentes no futebol e o seu fair play foi inexcedível. Aliás, o seu currículo não regista qualquer tipo de infração disciplinar ao largo das muitas jornadas em que foi figura preponderante, não só quando o Desportivo de Beja atuou na segunda divisão nacional, assim como na terceira, por isso, ele será sempre umas das lendas que nunca será esquecida, principalmente, pelo formato elegante como marcou presença no mundo desportivo bejense. Zezinho, lembraste? O que ontem fomos e o que hoje somos!

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