O alarve fala muito muito alto e está sempre a pôr pontos de exclamação e pontos finais naquilo que diz. O alarve pensa pouco no que diz e compensa, acha ele, com o tom de voz varonil. Quando andava na escola, o alarve foi sempre fraco na argumentação e no debate, não sabia interpretar e não conseguia explicar nada para além do óbvio. O alarve cresceu e não mudou, manteve-se fiel aos seus princípios, aprimorou a incapacidade de discernir e trocou-a pelo berro. O alarve é um modelo do vazio e da irrelevância. O alarve é um ser superficial, adversário da reflexão crítica e inimigo visceral do bom senso e do equilíbrio. O alarve não sabe que é alarve e esse é um problema irresolúvel. Mas a alarvidade nem sempre é uma questão genética, tal como se é louro, ou moreno, ou alto, ou baixo, nem sempre é uma herança deixada de pais alarves a filhos ou filhas alarves. Os naturalmente alarves não são os mais perigosos ou mais inconvenientes. Esses podemos sempre evitar e fazer de conta que não ouvimos as boçalidades e os disparates. Os alarves realmente perigosos são aqueles que adquiriram poder. Um alarve detentor de um cargo de liderança ou administração é um ser assustador e nefasto. O alarve, fruto de uma débil noção de cidadania, de tolerância, de respeito pela diferença e de defesa da dignidade humana das liberdades fundamentais, é vingativo, velhaco e tirano. Vai buscar a autoridade não à moral ou à ética, mas sim às frustrações, ao ódio e às insuficiências que carrega dentro de si desde pequenino. Continua pequenino de dimensão e de espírito, mas fizeram-no grande, ele fez-se grande. O alarve autodidata pavoneia-se por entre os seus súbditos com a chave do palheiro na mão.