Diário do Alentejo

Automóveis antigos
Opinião

Automóveis antigos

José Saúde

29 de outubro 2025 - 08:00

Do alto da torre do velhinho castelo, enquanto os turistas dispersavam os seus olhares pela longa planície, Beja foi, no passado fim de semana, anfitriã da 30.ª edição das “48 Horas de Automóveis Antigos”. A organização do evento teve como entidades promotoras o Portugal Classic e o Clube Português de Automóveis Antigos. Confesso que me senti radiante, e sinceramente encantado, ao deparar-me com a excelência dos automóveis antigos, agora plenamente recuperados, assumindo a opinião de que fui mais um dos privilegiados que se deixaram seduzir pela simplicidade e beleza daquelas já idosas máquinas. Num contexto mais amplificado sobre uma iniciativa que impõe, neste caso, óbvias restrições, leva-me o campo da saudade trazer à liça um mundo desportivo que embeleza convicções que se traduzem numa paixão perfeita e que se enquadra no binómio homem/automóvel. Sim, aqueles antiquados automóveis requerem cuidados atempados e os seus condutores, e óbvios proprietários, são seguidores de gerações que se dedicam a conservar essas seniores preciosidades. Gosto, por isso, do deslizar no asfalto dessas raridades cujos motores teimam em galgar quilómetros, sendo, por vezes, as suas avarias propícias para uma reparação quiçá imediata. Estes automóveis transportam-nos para outros tempos, para os tempos de uma irreverente juventude em que a rapaziada se regozijava com as célebres gincanas ou dos ancestrais ralis com condutores por nós conhecidos. No estádio municipal Dr. Flávio dos Santos, em Beja, ou no campo do antigo liceu, os minis – Austin e Morris –, os BMW, os Ford Escort, os Datsun 1200 ou os tri-s, os Alfa Romeo, os Citroen “bocas de sapo”, de entre outras marcas, formavam um esquadrão de múltiplas ambições. A terra batida onde se acomodavam as várias balizas e outros obstáculos, eram pontos estratégicos que os jovens condutores tinham de ultrapassar, mas sem prejuízos para o melhor tempo no trajeto percorrido, visto que o prazo gasto no percurso seria determinante na classificação geral. Ou, os empolgantes ralis por caminhos velhos em redor da cidade paxjuliana, onde a mata da Cabeça Gorda era passagem obrigatória, bem como outros lugares onde as acessibilidades eram pautadas com graus de dificuldade maior. Alias, nessas épocas eram dias e noites infindáveis que mexiam com o frenesim de uma mocidade sempre excitante. Hoje, a saudade remete-nos para o contemplar de automóveis antigos que nos transporta para uma apreciável viagem nostálgica a tempos que já lá vão. Apreciei esta visita de velhas máquinas por estas paragens que percorreram os concelhos de Beja, Vidigueira, Mértola, Aljustrel, Castro Verde, Cuba e Ferreira do Alentejo. Os “bólides” estraçalharam horizontes e povo rejubilou com a passagem dessas relíquias, onde o recordar é algo que ainda vai limitando gerações. Numa opinião pessoal, veio-me à memória tempos de outrora nos quais aquelas bombásticas máquinas, com etiquetas singularmente sociais, são no presente notoriedades recuperadas e de valores monetários de grande monta. Voltem sempre! 

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