Se em qualquer eleição o voto é pouco racional, nas eleições autárquicas, principalmente nas terras mais pequenas, essa característica atinge proporções esmagadoras.
Se compararmos os panfletos que os partidos distribuem pelos eleitores, concluímos que não há muita diferença entre os programas eleitorais. Por outro lado, diz-nos a experiência que aquelas palavras futuristas que de quatro em quatro anos cintilam impressas em papel de alta qualidade raramente se podem levar todas muito a sério.
O que esses folhetos têm de verdadeiramente importante são as fotografias. Se só tivessem as fotografias, tinham o mesmo valor. Para o bem e para o mal da candidatura.
As fotografias são portas que abrem emoções e não nos esqueçamos que o voto é eminentemente emocional. Cada fotografia revela uma história, cada fotografia diz-nos quem é aquela pessoa e o que ela representa para a nossa sensibilidade, para a nossa memória, para a nossa confiança, para o nosso respeito, para o nosso desdém, ou para a nossa indiferença.
Cada rosto, mais sorridente ou mais compenetrado, acende em nós um julgamento e é esse julgamento que quase sempre determina o nosso voto. Cada rosto fica à mercê da nossa subjetividade. No radicalismo da nossa apreciação, apenas um rosto pode inquinar todos os outros, apenas um rosto pode desculpar todos os outros.
É por isso que os rostos que se candidatam têm de ter histórias bonitas, consistentes, altruístas, fiáveis, inteiras, contínuas, persistentes, presentes. É por isso fundamental que quando as pessoas dão a cara, essa cara, espelhada num papel ou num cartaz, consiga, pela sua luz interior, acender a luz emocional da confiança. A caneta faz o resto.