O meu limoeiro está cansado. Perguntei-lhe se era deste calor, se queria mais água, se a terra lhe roubava as forças, mas ele disse-me que não, o problema é o tempo, esse peso que ele carrega há tantos anos sobre os troncos. Sabemos qual é a esperança de vida das pessoas e dos cães, mas não fazemos a mínima ideia durante quantos anos vive um limoeiro. Se calhar, um ano de uma pessoa equivale a sete de um limoeiro, só assim se explica a aparente eternidade que vive no meu quintal.
O meu limoeiro está triste.
As folhas esmorecem, amarelecem, caem de desgosto. A bela árvore que dava sombra é agora uma sombra de si mesma. Quando for ao cemitério, vou pedir a opinião ao meu pai, talvez ele me diga o que é que eu hei de fazer, alguma coisa quebrou o limoeiro, alguma dor ele terá.
Conhecemos a dor das pessoas, mas não fazemos a mínima ideia que dores sente um limoeiro.
Acredito que uma delas seja a cisma, não será fácil ver desaparecer as pessoas que se sentavam debaixo de si à tardinha, o meu avô, o meu pai, eu tão pequenino, não deve ser fácil não sentir as mãos da minha mãe a apanharem limões ainda o sol demorava a inundar a cal de luz.
Os limões nascem, um aqui outro ali, frutos frágeis, franzinos, nada que se pareça com os sóis de outrora.
Tínhamos que os dar aos vizinhos, tantos e tão grandes eram, mas agora teimam em ficar verdes, taciturnos, debruçados sobre a terra, alguns caem, parece que é isso que eles querem, cair e morrer.
Pensamos que o destino dos limoeiros é dar limões, mas os limoeiros de quintal dão muito mais do que isso. Os limoeiros do quintal dão memórias e as memórias dão saudades. Acho que o meu limoeiro não está a saber lidar com isso.