Diário do Alentejo

Caixinha dos comprimidos
Opinião

Caixinha dos comprimidos

Vítor Encarnação, professor

24 de agosto 2025 - 08:00

Perdi a minha caixinha dos comprimidos, vejam lá a minha pouca sorte, era uma caixinha de plástico, foi a minha mana que Deus tem que a trouxe de Fátima.

 

Tinha duas tampinhas, numa estava estampada a Nossa Senhora, na outra os três pastorinhos, tudo em ponto pequeno, a minha mana ainda pensou em trazer-me uma medalha com a cara do Papa, mas ainda não tinham com a cara do novo, não tinha muito jeito gastar dinheiro com o que já morreu, gostávamos muito dele, mas este também não parece má pessoa, se fosse também não tinha chegado a Papa, eles não iam escolher uma pessoa ruim, pelo menos é que eu acho, mais valia esperar que fizessem novas medalhas, serão um pouco mais caras bem entendido, mas pelo menos está vivo.

 

Coitadinha da minha mana, morreu poucos dias depois de vir de Fátima, apanhou lá um golpe sol, ainda fomos às urgências, mas a morte era mais urgente, não teve que esperar tempo nenhum, sentou-se na cadeira e a morte chamou-a logo.

 

Estive cá ontem de manhã na consulta da tensão, desconfio que deixei cá a caixinha dos comprimidos, se a encontrarem, digam-me.

 

Não me sinto bem em pôr os comprimidos noutra caixa, naquela estavam benzidos pela Mãe de Deus, tomava-os e sentia-me muito melhor, os que tomei ontem à noite não me fizeram efeito nenhum.

 

Para não me esquecer dos comprimidos que tinha que tomar, dizia: agora vou tomar os da Virgem Maria, agora vou tomar os do Francisco, agora os da Jacinta, agora os da Lúcia. Assim não me enganava nas horas, ninguém imagina a falta que a caixinha me faz, quando o senhor padre for a Fátima vou-lhe pedir que me traga uma, a Nossa Senhora de um lado e os pastorinhos do outro, tudo em ponto pequeno.

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