Diário do Alentejo

Zeca Pereira
Opinião

Zeca Pereira

José Saúde

24 de agosto 2025 - 08:00

Nas proezas que o tempo consome a uma velocidade estonteante eis que num olhar sobre personagens que engrandeceram a nobreza do cosmos desportivo bejense sobressai, de entre outras, o mítico Zeca Pereira. Conheci-o como presidente do Despertar Sporting Clube e recordo a sua cordial rendição ao movimento associativo. Na herança partilhada em velhos refúgios, guardo uma foto de uma equipa de juvenis (1965/1966) onde, em pé, se posiciona o notável Zeca Pereira num dos lados e no outro o mister Sioga. Recordo momentos indescritíveis em que o dirigente assumia os seus dotes de líder.

 

Conheci-o na sua labuta sem tréguas por detrás de uma secretária na sala da direção, secretária que ficava localizada ao lado direito da sala de reuniões quando a sede se fixara na antiga rua das Lojas, bem como na virtualidade em laborar com os plantéis que em cada uma das épocas defendiam as cores do velhinho “Rasga”. Era o tempo em que nada faltava.

 

Revejo-o nas idas ao balneário, quer nos treinos, quer no momento dos jogos, e a sua preocupação com uma espontânea falha que porventura ele próprio detetada. E, caso as houvesse, lá estava e “tio” Cambado, um homem que sabia da poda como experimentado roupeiro, para prontamente as resolver. Aos domingos era comum vê-lo junto às equipas, equipas que nesses tempos se reduziam aos juvenis, juniores e seniores.

 

Numa realidade observada, sobressai o seu fraterno e amável atendimento aos jogadores na sede. A porta da secretaria estava sempre franqueada. Recordo o dia do pagamento dos prémios de jogo, normalmente, às terças-feiras, sendo que nesses recuados tempos tudo era feito conforme o sentido nato das responsabilidades atempadamente garantidas. Entrava-se na sala e em cima da mesa de reuniões lá estavam contados os magros escudos alcançados pela conquista de mais uma vitória. O Zeca Pereira, sentado na sua já idosa cadeira, cumprimentava cordialmente o jogador, dava-lhe o documento para assinar e de seguida era entregue a merecida recompensa. Dinheiro que muitas vezes saía do seu próprio bolso.

 

Na minha perceção, a que acresce o profícuo conhecimento pelo universo futebolístico, considero que pessoas como o saudoso Zeca Pereira, um homem que viveu desmesuradamente o seu Despertar, são dirigentes que figuraram, para sempre, no quadro de honra de eloquentes diretores cuja dedicação ao fenómeno desportivo foi imensurável. As casas de comes e bebes, em Beja, usufruíam, naquele tempo, de uma benesse vinda daquela lendária agremiação.

 

A Majú, aos fins de semana, designadamente, era um dos locais citadinos onde alguma da rapaziada, por conta do clube, almoçava um bife à casa atulhado em batatas fritas e um ovo a “cavalo”. Lembrar Zeca Pereira é enaltecer um diretor exemplar que se afirmará sempre como um dos alicerces para a construção da atual realidade despertariana. Por isso, jamais olvidaremos pessoas, com fibra, que ordeiramente dantes fizeram dos clubes coletividades e onde proliferam exímias histórias jamais esquecidas.

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