Diário do Alentejo

Intelectuais
Opinião

Intelectuais

Vítor Encarnação, professor

16 de agosto 2025 - 08:00

Os intelectuais sempre foram vistos como sendo pedantes e desfasados da realidade, dizia o homem sentado na esplanada. A literatura e a filosofia conseguiram regenerar alguns, mas a grande maioria foi, por incompreensão ou por desdém, globalmente recusada pelo cidadão comum.

O indivíduo que só vive à superfície, que só reage a instintos básicos, que não consegue ir além da sua curta circunstância, nunca gostou de gente que pensa um pouco mais profundamente na existência.

E agora, muitas pessoas, impulsionadas por uma vertigem saudosista, criaram uma nova fórmula e atribuíram um outro significado ao intelecto.

Trouxeram o conceito para o quotidiano social e político e minaram a ideia, o pensamento, a análise, a consciência, a reflexão e a opinião.

Nos dias que correm, quem pensa e usa frases com mais de cinco palavras e sem erros de concordância é um intelectual. Os intelectuais deixaram de ser os grandes pensadores, os excelsos filósofos, os sábios. Agora, os intelectuais, com a conotação odiosa que o vocábulo adquiriu, são aqueles cidadãos comuns que apenas por defenderem o humanismo, a dignidade, o diálogo, a democracia, o livre-arbítrio, o multiculturalismo, são imediatamente apelidados de gajos e gajas de esquerda, socialistas, comunistas, camaradas, defensores de pedófilos, do movimento LGBTQIA+, dos ciganos, dos migrantes e da malta que vive do rendimento mínimo.

Os intelectuais, esses malandros, o que querem é ensinar sexo nas escolas, o que querem é usar os livros para nos continuarem a manipular, têm a mania que são espertos, se gostam tanto dos migrantes levem-nos lá para casa, o que era preciso era voltar cá o Salazar, dizia outra voz na esplanada. 

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