António Machado, poeta castelhano, Espanha, dizia, a certa altura numa das estrofes de “Proverbios y cantares”, do livro Campos de Castilla, que “o caminho faz-se caminhando”, visto que este, o caminho, só se faz ao caminhar, por isso, desafiemos enigmas, estimulemos as nossas faculdades mentais em toda a sua linha, ultrapassemos impedimentos e fixemo-nos na componente desportiva, razão pela qual ainda vamos debitando textos enquanto a paixão à arte o proporcionar. A amplitude do prodígio desportivo é real, contempla modalidades que se estabeleceram com vontade e rigor, que se adaptaram consonante o evoluir dos tempos, sendo que a garra incutida pelos seus proficientes admiradores foi ganhando novas fórmulas de execução e dando azo para que as examinemos, com mestria, no presente. Neste círculo desportivo em que há muito navegamos a escrita é, na sua sucinta forma de expor acontecimentos em público, uma matéria fundamentalmente essencial, em que as panóplias de emoções vagueiam com uma gigantesca celeridade por interioridades de vidas em que as sinuosidades dos tempos, assim como a multiplicidade das ocorrências, deixa substancialmente escrito que recordar é viver. E é nesta multiplicidade de factos que revejo imagens que são tão-só o veranear por retratos desportivos do passado, que desbravamos contextos, contamos histórias de outrora, mas enquadrando-as com o presente.
Na noite de 21 de julho de 1951, no ringue do jardim Público de Beja, disputou-se um jogo de hóquei em patins entre o Desportivo de Beja e o Despertar. Não faremos eco, por razões que desconhecemos, sobre o resultado, mas reportemo-nos, sim, à entrega dos jogadores ao longo do dérbi, assim como à ênfase do público em redor do ringue.
Os retratos desportivos que nos chegam são símbolos fiéis de como a modalidade se apresentava, à época, e a sua natural evolução. Nessas já longínquas temporadas de um cálido verão, Beja mantinha em atividade o hóquei em patins, sendo as coletividades do Ateneu, Desportivo, Despertar e o Pax Júlia que davam brilho ao espetáculo. As noites passadas no jardim público, onde o ar fresco recomendava o bem-estar de corpos, quiçá exaustos de mais um árduo dia de trabalho, apresentavam-se como um chamariz de pessoas que se entretinham com aqueles duelos.
Os sticks, por vezes construídos pelos próprios hoquistas, debitavam inolvidáveis prazeres desportivos, sendo que os equipamentos se ajustavam à presunção dos atletas. Certo é que a modalidade do hóquei se instalou na cidade, assim como em outras localidades do distrito, tais como Aljustrel, Castro Verde e Moura, designadamente, sendo que na velha Pax Júlia é o Clube de Patinagem de Beja, fundado a 28 de julho de 1993, que detém as disciplinas do hóquei em patins e da patinagem artística em atividade. E é num veranear por retratos desportivos que recordamos momentos em que os gáudios se multiplicam.