Estou perplexo, dizia o homem sentado na esplanada enquanto folheava o horizonte. E como sabemos, dos livros e da vida, a perplexidade não ajuda muito o raciocínio. Tenho de analisar as razões que me levaram a este espanto e tentar desconstruir este estado de confusão mental que me assola de vez em quando. Tenho de procurar um padrão que me ajude a compreender a repentina prática de inusitados cumprimentos, parabéns, elogios e exaltações. Sei que há uma pausa, sei que existe um intervalo entre dois expoentes de carinhos, sei que os mesmos que durante esse hiato não me falam, nem sabem que existo, muito menos quando faço anos, subitamente me tratam com um desmedido enlevo. Já estudei as fases da lua e respetivas marés oceânicas e a influência do vento Suão, mas confesso que não consigo descobrir as razões para tanta atenção e simpatia. É que a coisa dá muito nas vistas, é demasiado exagerado para poder ser verdade, é muito concentrado no tempo e no espaço de uma vila ou de uma aldeia. Tenho a impressão que houve uma altura em que esse encómio acontecia de três em três anos, depois passou a acontecer de quatro em quatro anos. Consultei mapas astrais, horóscopos, Bordas d’Água, anuários, e não encontrei nada que me explicasse cabalmente por que razão certas pessoas me começavam inesperadamente a ver e a dar-me palmadas nas costas. É tão grande este mistério e esta dúvida que me assolam. Ando confuso porque tenho estado sempre no mesmo sítio, visível, presente. Mas há qualquer coisa ambígua e obscura que me diz que esta conexão emocional acontece a cada quadriénio. Refutadas todas as ideias que me ocorreram, já vi que, ingénuo e sozinho, não consigo acabar com esta perplexidade.