Temos de aprender a perder, dizia o professor a quem tinha paciência para o ouvir. Já gastámos demasiado tempo a aprender a ganhar, a termos obrigatoriamente de ganhar. Aprender a perder é um processo fundamental na construção de indivíduos plenos e equilibrados. A competição entre pessoas não é nova, será tão velha como o mundo, mas nos tempos que correm é notória uma necessidade absoluta de triunfar, motivada pela autossatisfação do próprio ego, que depois se projeta nos feitos dos filhos. Dentro das escolas, no seio das famílias e das instituições, tudo é organizado para a obtenção de um diploma, de supremas notas, de uma distinção individual. As redes sociais tornaram-se espelhos e montras dessa necessidade de superioridade. Devemos aprender a perder, não por ausência de objetivos ou compromissos, mas sim para sabermos lidar com a frustração, com a derrota, com os erros. A cicatriz, a dor, a queda e a perda fortalecem. O trauma deixou de ser um choque emocional profundo e ganhou um significado superficial, ridículo. Agora é a perturbação psicológica causada por uma palavra de que não se gosta, por um pedido que não é satisfeito, por uma cruel instrução dada por um professor, por um malvado reparo feito por um adulto. O trauma desceu ao nível do mero aborrecimento, do simples capricho, da mais pequena contrariedade. Tudo o que não facilite traumatiza, tudo o que exija organização e compromisso afeta profundamente, qualquer atitude mais impositiva ou reguladora é um atentado à autoestima. Já ninguém sabe perder, já ninguém admite perder, como se perder não fizesse parte da vida. Saber perder é a base de vitórias existenciais muito mais consistentes.