Morreu Osvaldinho, antigo jogador de futebol que mui dignamente honrou Beja, a região e o País. A sua brilhante carreira levou-o aos píncaros do mundo futebolístico. Tudo começou quando António Feliciano, uma inegável glória do futebol português, chegou ao Desportivo de Beja, vindo do Belenenses, em meados da década de 1950, e partiu para a formação da primeira escola de jogadores na urbanística cidade sul-alentejana. Desse prodigioso grupo de moços faziam parte Osvaldinho, Orlando Rousseau, Faustino, Joaquim Madeira, Nói Madeira, Nagancha, Diogo Requeijão, Viriato Agatão, Zé das Galinhas, Carlos Alvito (Chaleta), Carocinho, Barnabé e Filipe, entre outras promessas que pisaram o memorável palco desportivo. Feliciano, atendendo aos acessórios que cada um dos jovens lhe despertava, decidiu “batizar” Firmino Baleizão Sardinha, nascido em Beja a 10 de setembro de 1945, com o nome de Osvaldinho, um atleta do Sporting Clube de Portugal, face às semelhanças de jogar que o miúdo manifestava com aquele astro lusitano. Numa ténue viagem pelos primórdios de uma criança que soube “comer o pão que o diabo amassou”, o seu palanque desportivo de garoto foi o quintal do Almodôvar, lá para as bandas da rua da Lavoura na arcaica Pax Julia. Com 11 anos ei-lo a integrar a portentosa escola ministrada por essa antiga “torre” de Belém. Francisco Assunção, presidente do Despertar, sempre atento aos valores que despontavam no futebol bejense, convenceu-o a assinar pelas cores despertarianas. Dois anos passados e deu-se o subsequente regresso às origens. Valentim Alexandre era o treinador e tinha no plantel jogadores de primeira água. Nói Alves, Isidoro, Quinito, Diogo Barrocas, os irmãos Madeira, Dionísio, Costa, Francelino, Joab, Marcelino, Fernandes e outros companheiros de jornada são exemplos de uma qualidade que proliferava no emblemático grémio onde o “tio” Xaxinha, antigo jogador do Luso, era o inestimável roupeiro. Com 17 anos, António Teixeira, um homem do Norte e comerciante em Beja, indicou-o ao Vitória de Guimarães. A transferência consumou-se, sendo o seu salário mensal de três contos e quinhentos e 90 contos de “luvas”, um contraste gigantesco face à mensalidade auferida no Desportivo, 750 escudos mensais. Em Guimarães multiplicavam-se os craques da bola. Roldão, Daniel, Barreto, Manuel Pinto, Virgílio, Caiçara, Peres, Mendes (“pé canhão”), Rodrigo, Djalma, Morais, Jeremias, Jorge Gonçalves, José Carlos, Custódio Pinto, Chico Rodrigues, Tito e Teodoro são nomes desse majestoso quinhão de atletas. O treinador era o argentino José do Vale. Osvaldinho foi considerado na cidade berço como o melhor defesa do Vitória no século XX, somando no seu pecúlio 14 internacionalizações, duas na seleção A. Ligado ao Guimarães entre 1963 e 1980, ficando pelo meio uma temporada no Boavista, uma vez que prestou serviço militar no Cicai, Porto, e uma outra no Marítimo, em 1981, já na fase derradeira da sua estrondosa carreira. Todas as palavras que possamos escrever sobre o longo percurso de Osvaldinho serão simplesmente poucas. O currículo que deixa é vasto e o seu coração gesto supremo de uma enorme humildade. Penduradas as botas, o antigo internacional foi alvo de uma homenagem cuja receita, dois mil contos, reverteu a favor da Cercigui, uma instituição para crianças inadaptadas. Agora, na madrugada do dia 3 de junho de 2025, partiu rumo à eternidade, Descansa em paz, Osvaldinho.