Diário do Alentejo

As sombras que nos rodeiam
Opinião

As sombras que nos rodeiam

Maria João Ganhão

16 de março 2025 - 08:00

Intervenções na estratégia social para o município de Beja

 

 

Nos últimos anos temos assistido a um cenário social em constante transformação no nosso querido município de Beja. A diversidade cultural que caracteriza a nossa população é um dos nossos maiores patrimónios, e é com essa riqueza que devemos trabalhar para promover a integração e inclusão social de todos os cidadãos. A análise que realizamos diariamente destaca não apenas as forças, fraquezas, oportunidades e ameaças que enfrentamos, mas também a necessidade urgente de ações concretas que respeitem a dignidade e os direitos de cada pessoa.

 

Como profissional, atualmente exercendo as funções de vereadora na Câmara Municipal de Beja, mas, sobretudo, como mulher e bejense, a minha filosofia baseia-se na convicção de que as políticas sociais devem ser implementadas de forma discreta, rigorosa e séria, nunca esquecendo que estamos a lidar com vidas humanas, histórias e sonhos adiados, a maior parte deles desfeitos pelas circunstâncias de cada vida envolvida.

 

A nossa atuação nas ações deve ser decidida e corajosa, mas a nossa abordagem deve ser centrada na discrição, na empatia, no respeito e na inclusão. Os desafios sociais não têm nacionalidade, raça, etnia, cor ou religião: à nossa frente estão pessoas.

 

Exemplo disso são as fiscalizações às habitações sobrelotadas e sem condições de habitabilidade, com as respetivas notificações e intimações aos proprietários, permitindo resolver um conjunto de situações marcantes no centro histórico e na cidade de Beja. Embora tenhamos de reconhecer que os meandros da administração pública nem sempre possibilitam a rapidez nas respostas que todos pretendemos.

 

Pior do que demorar a fazer, é não fazer!

 

A nossa tradição de hospitalidade e sensibilidade social são ativos que facilitam a integração e inclusão. Devemos reforçar a liderança e as parcerias com as diversas associações presentes no nosso território, reconhecendo e valorizando o seu trabalho diário, potenciando os conhecimentos e experiências dos seus profissionais, enaltecendo o património que acrescentam em todos os projetos.

 

Além disso, as instituições de ensino, culturais e desportivas desempenham um papel crucial: devemos intensificar a colaboração com estas para desenvolver programas e projetos que preparem as nossas crianças, os jovens e a população como um todo, para um conhecimento harmonioso. Precisamos, portanto, de fomentar iniciativas que incentivem a troca cultural, como eventos que unam diferentes culturas e tradições.

 

Contudo, não podemos ignorar as fraquezas identificadas, um desafio que precisamos enfrentar de forma assertiva. O enorme descuido na antecipação, no investimento e na preparação dos serviços públicos fomentou enormes barreiras no acesso a serviços essenciais. Estamos a trabalhar com diversos parceiros para garantir que todos os cidadãos, independentemente da sua origem, tenham acesso a serviços de saúde, educação e emprego, nesse sentido vamos apresentar e implementar “O Guia Migrante” e “Mediadores Nativos”, como contributos essenciais na melhoria dos acessos aos serviços.

A falta de sensibilização é uma questão que não podemos deixar de lado, por isso vamos impulsionar o Conselho Local para a Interculturalidade – CLI – unindo os parceiros sociais institucionais, Santa Casa da Misericórdia de Beja e Cáritas, as associações de imigrantes, culturais, desportivas e todas as entidades e organismos que possam acrescentar mais valia ao CLI, permitindo planear e concretizar campanhas de consciencialização que envolvam a comunidade, promovendo o respeito e a valorização da diversidade.

 

A possibilidade de parcerias com as associações de solidariedade, de agricultores, de hotelaria e restauração, e a parceria com outros municípios, vai potenciar o acesso a fundos da União Europeia que podem ser fundamentais para implementar programas de inclusão social eficazes. Estamos a explorar essas parcerias e a trabalhar em projetos, como a “Plataforma Social – Laboral”, que visem a capacitação da população, o combate à sazonalidade e o trabalho sem direitos (redes de tráfico humano), preparando-a para lidar com a diversidade de forma positiva.

 

Por fim, não podemos esquecer que o preconceito social e a polarização são barreiras que devem ser desmanteladas. Precisamos de um diálogo aberto e construtivo, que promova a convivência pacífica entre todos os grupos. A nossa responsabilidade é criar um ambiente onde todos se sintam seguros e respeitados.

 

Em suma, a estratégia social para o município de Beja deve ser uma prioridade. Assim, estamos implementando, com os nossos parceiros, um centro de abrigo temporário e uma moradia de transição, projetando o “Beja Social+”, um espaço que centralize um conjunto de respostas sociais e os serviços sociais municipais.

 

Estamos a trabalhar arduamente para que as políticas sociais sejam um reflexo da nossa ética e dos nossos valores, refletindo-se nas ações e medidas políticas, mas sempre respeitando as pessoas em toda a sua individualidade. É um caminho que exige compromisso, mas estou confiante de que, juntos, conseguiremos construir uma Beja mais inclusiva, solidária e justa para todos, em que possamos, pouco a pouco, ver AS SOMBRAS QUE NOS RODEIAM!

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