Diário do Alentejo

Manuel Trincalhetas,  um dos ícones do futebol bejense
Opinião

Manuel Trincalhetas, um dos ícones do futebol bejense

José Saúde

21 de fevereiro 2025 - 10:00

A minha homenagem de hoje é dedicada a um antigo atleta que deixou uma inolvidável história no futebol sul-alentejano. Homem íntegro, respeitado e respeitador, fez eco não só na arte de defender a baliza, assim como de treinador. Beja, e o seu distrito, muito lhe ficou a dever, dado que o seu literal empenho na evolução do jogo por ele terá passado.

Falo de Manuel Joaquim Trincalhetas, que nasceu no dia 25 de outubro de 1914, em Beja, e que fez parte de uma geração que construiu história desportiva na urbe bejense.

Começou, como todos os miúdos do seu tempo, com uma trapeira, ou bola de trapos, tendo chegado ao Luso pela mão de António Colaço, jogador do grémio, que pegou num grupo de moços de rua e levou-os aos treinos da equipa, só que uns ficaram no plantel, outros não.

Manuel Trincalhetas foi um dos escolhidos e o certo é que viria a afirmar-se como um dos melhores guarda-redes do seu tempo. Tempos em que o Luso se proclamava como um time ganhador, sendo Joaquim Ferreira e Pedro Pireza os treinadores que muito contribuíram para o progresso do emblema paxjuliano.

Um dia, num treino, Manel Trincalhetas teve um desaguisado com o Gil pela simples razão de tentar jogar a extremo direito, algo que não lhe fora concedido e eis o esplêndido guardião do Luso a caminho do Despertar, onde o lugar era ocupado pelo Zé Cuco, também ele um belíssimo guarda-redes, mas depressa ganhou a posição e por lá se manteve, sendo que desfrutou ainda de uma passagem pelo Esperança.

Em 1950, Manel Trincalhetas foi um dos treinadores portugueses a tirar o curso nacional, o que lhe permitiu a continuidade no seu desporto favorito, mesmo que, paralelamente, tivesse exercido a condição de massagista.

Como técnico encartado, treinou o Desportivo de Beja, Sporting de Cuba e uma equipa de Ferreira do Alentejo que, ao serviço do Colégio Dom Nuno Álvares Pereira, disputou um campeonato da regional da antiga Mocidade Portuguesa, do qual fora campeão, o que motivou um estado eufórico na vila de que resultou a fundação do Sporting Clube Ferreirense, clube que teve no padre Alcobia um dos seus vitais impulsionadores.

Do seu palmarés consta uma subida de divisão do Desportivo de Beja à segunda nacional, na época de 1962/1963. Nesta temporada belicosa, Manel Trincalhetas tinha uma magnífica equipa, em que proliferavam craques como Nói Alves, Reis, Filipe, Marcelino, Madaleno, Apolinário, Nói e o seu irmão Joaquim Madeira, Fernandes e Dionísio.

O “tio” Manel um dia confidenciou-me: “No meu tempo existia em Beja o Luso, o Despertar, o União, o Sport Lisboa e Beja e a Académica. Havia bons jogadores da terra, como o Zé da Bita, o Sardinha, o Ramona, o Jacinto Campos, o Xaxinha, de entre outros, mas todos jogadores da terra. A tática era o WM, marcavam-se muitos golos”. Manuel Trincalhetas, um dos ícones do futebol bejense. 

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