Morreu o Apolinário, antigo jogador de futebol, aos 92 anos, sendo que a sua forma de vida sempre se pautou pela elegância e respeito para com o próximo. Apolinário foi uma das antigas estrelas futebolísticas que deixo escrito no meu livro, Glórias do Passado, volume II, expondo neste texto parte da sua carreira. “Nesses tempos jogávamos descalços. Não havia as condições que hoje se deparam aos jovens. As primeiras botas de futebol que calcei tinha 18 anos”. Eis-nos perante uma brevíssima resenha vivida pelo saudoso atleta que despontou para o prodígio do jogo na aprazível urbe de Sines. José Rodrigues dos Santos Apolinário é siniense e nasceu a 8 de fevereiro de 1932. Num olhar sobre a imensidão de um encantado Atlântico que enquanto criança lhe alvitrou fidalgos sonhos e onde o tumultuar crispado das ondas arrebatou eloquentes histórias de audazes navegadores, Apolinário iniciou-se no futebol no Sport Lisboa e Sines, filial do Benfica, agremiação que mais tarde se uniu com o Clube de Futebol Os Sineenses, filial do Belenenses, sendo que dessa união resultou a fundação do Vasco da Gama Atlético Clube. Numa observação feita aos conteúdos desportivos de uma terra que convive de paredes-meias com as águas azuladas de um oceano gigantesco, Apolinário recordava uma afável certeza que lhe ia na alma: “Sines foi sempre um viveiro de jogadores. Nesses tempos havia perto de 20 sinienses espalhados pelo futebol nacional, uns na primeira, outros na segunda divisão. João Martins, que foi internacional pelo Sporting, os Paixões, o meu irmão, Amaral, Larguinho, Zé Machado, que jogava no Portimonense, e muitos outros” são exemplos dessa inquestionável realidade. A delicadeza como Apolinário tratava a bola derrapou para um rol de comentários que deixavam antever um futuro promissor. Um dia o professor Ilídio, natural de Ferreira do Alentejo, habitual frequentador de Sines e que lecionava na Escola Agrícola de Évora, indicou-o ao Lusitano, sendo que na época de 1952/1953 ei-lo a assinar contrato com o grémio eborense. O treinador era o Piza e no plantel proliferavam excelentes craques. Vital, Patalino, Martelo, Soeiro, Madeira, Paulo, Zé Pedro, Paixão e os argentinos Vale, Pepe, Duarte e Di Paola eram alguns dos deuses da bola que defendiam as cores lusitanistas. Porém, nem sempre a sorte vinga para um jovem atleta que está numa fase de afirmação. Apolinário, no período de férias de verão e numa praia que muito bem conhecia, a de Sines, prontificou-se para uma peladinha na areia, mas contraiu uma grave rotura muscular. A lesão mexeu com a sua condição de atleta, seguindo-se a rescisão do contrato com os eborenses e o ingresso no Desportivo de Beja na temporada de 1953/1954. Com uma excelente visualização dos lances, a que acresce o fator frieza no momento em decidir a jogada, foram dotes que abalizavam os valores do seu ADN. Todavia, guardava com ele uma tristeza que marcou a sua passagem pela coletividade bejense: “Num jogo disputado no Estádio do Bonfim, em Setúbal, disputámos uma final para apurar o campeão nacional da terceira divisão frente aos Leões de Santarém e perdemos por 7-2”. Com 30 anos, e já afastado do futebol, o polivalente jogador regressou ao Desportivo e ajudou o emblema para mais uma subida ao escalão secundário nacional. Até sempre, Apolinário.