Diário do Alentejo

Gémeos Rações:  Serpa, o seu  sagrado chão  no universo  do futebol!
Opinião

Gémeos Rações: Serpa, o seu sagrado chão no universo do futebol!

José Saúde

17 de janeiro 2025 - 08:00

Num desafio a uma austeridade que impõe ponderação sobre a evolução desportiva regional, leva-nos a audácia a caminhar por atalhos onde se cruzaram antigos craques que fascinaram o público que se rendeu à sua arte. Percorro territórios sul-alentejanos, recordo clássicos futebolistas e a imperecível sensibilidade conduz-me até Serpa. Naquela comarca deram à luz génios que trataram a esfera saltitante com altivez e óbvia agilidade. Cito os gémeos Rações que brilharam ao serviço do Futebol Clube de Serpa (FC Serpa). O seu talento no palanque futebolístico regional fora excecional. Manuel Guerreiro Rações e Francisco Guerreiro Rações nasceram, na então “Vila Branca”, no dia 24 de janeiro de 1943. Os primeiros passos, com a bola, foram dados em jogos de rua, em que os amistosos desafios proliferavam pelas diversas ruelas, ou em espaços disponíveis. Escalpelizando os princípios da década de 1960, sabe-se que os manos Rações iniciaram a sua atividade desportiva em 1961. Antes, o FC Serpa, sob o comando diretivo de João Diogo Cano, roçou o céu. Na época de 1956/1957 sagrou-se campeão nacional da III divisão e os cânticos da euforia exortaram uma juventude que sonhava representar o deslumbrante emblema. O Manuel evocava, em tempos, a realidade vivida nessas épocas e um dia confessou-me: “Depois daqueles anos do senhor João Diogo, em que o clube conheceu grandes momentos, apareceram muitos jogadores que pretendiam jogar no Serpa. Os treinos eram às sete da manhã e os duches com água fria. Levávamos toda a semana a limparmo-nos com a mesma toalha. Um certo dia, depois do treino matinal, o Zé Miguel não teve tempo de tomar banho porque tinha de entrar na oficina, só que quando se preparava para sair do campo o treinador, Di Paola, apercebeu-se e toca a mandá-lo para o banho e ele obedeceu. Hoje, é impensável uma coisa destas. Mas nesse tempo era assim. Havia respeito”. O futebol de antigamente é repleto de crónicas encantadoras. Vejamos esta situação passada em 1968. “Fomos jogar pela seleção de Beja ao Algarve. O jogo realizou-se em Faro e o nosso treinador era o Manuel Trincalhetas. Nessa seleção estava o Manuel Baião, um defesa central que nesse tempo jogava no Desportivo. Chegámos no outro dia, às oito horas da manhã, a Beja e como éramos de Serpa apanhámos a automotora até à ponte do Guadiana, mas o caminho da ponte a Serpa foi feito a pé. Quem é que hoje fazia isto”. As histórias caem em catadupa e Manuel fecha com esta. “Na época de 1972/1973 já não estava inscrito na associação, mas aconteceu que o Ferreirense veio jogar a Serpa e eu joguei com o cartão do meu irmão. Lembro-me do Juan falar comigo como do meu irmão se tratasse, mas não me desmanchei e respondia-lhe à letra”. Gémeos Rações: Serpa, o seu sagrado chão no universo do futebol!

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