Diário do Alentejo

Até sempre,  Nói Madeira!
Opinião

Até sempre, Nói Madeira!

José Saúde

27 de dezembro 2024 - 08:00

Morreu Nói Madeira. O seu óbito teve lugar no passado dia 18, quarta-feira. Faleceu em Cuba, localidade onde residia. Um povo que sempre o admirou e respeitou, ou não tivesse sido ele um craque que espalhou magia no futebol pelos diversos clubes nos quais militou. Neste contexto, é justo que façamos uma perspicaz reflexão por gerações anteriores, revendo nomes que fizeram do futebol um hino à arte desportiva. Fui, em épocas distantes, um dos miúdos que frequentava o antigo estádio municipal Engenheiro José Frederico Ulrich, depois Doutor Flávio dos Santos, e que bebia o gosto pela redondinha. Dos magníficos astros desses tempos, conheci o Nói Madeira, nome pelo qual ficaria eternizado numa modalidade que lhe foi familiar. Honório João da Graça Madeira nasceu em Beja no dia 4 de março de 1944 e era oriundo de uma linhagem predestinada para o futebol, começando pelo mano Joaquim, passando pelo Nói, a que se juntam o saudoso Rui, João e terminando no Vítor. O clã Madeira deixou explícito nas memórias futebolísticas bejenses que o agregado herdou o legado que seu pai, Joaquim Costa Madeira, jogador no União de Beja, Sport Lisboa e Beja e no Glória ou Morte de Portimão, outorgou aos seus descendentes. O Nói transitou do futebol de rua para o Desportivo de Beja quando o antigo internacional António Feliciano, uma das notáveis torres de Belém, veio do Belenenses para treinar a equipa principal e fundou uma escola de jogadores, em meados da década de 1950. Desse lote de garotos destacavam-se Filipe, Diogo Requeijão, Orlando Rousseau, Viriato, Rosa, Carlos Alvito, Joaquim e o seu irmão Nói Madeira, Diogo Mendonça, Laganha, Carocinho, sendo que mais tarde se juntaram ao grupo o Faustino e o Osvaldinho. As capacidades do Nói Madeira jamais caíram em saco roto e ei-lo a estrear-se pelos seniores da agremiação pax juliana num jogo que teve lugar em Alhandra a contar para o campeonato nacional da segunda divisão e quando Suarez era o treinador da turma bejense. O Nói foi um jogador polivalente. De defesa central para ponta de lança sempre que a equipa dele precisasse para dar a volta a um resultado que era negativo, lá estava o Nói a faturar um golo e ouvir os aplausos da multidão. Estes méritos levaram-no para o Textáfrica, em Moçambique. Nesses tempos áureos o Nói Madeira era tão conhecido em Moçambique como o Eusébio em Portugal, comentava-se. Após o 25 de Abril regressou a solo lusitano trazendo na bagagem a carteira de treinador e muitas ambições. Viajou para Sines e treinou o Vasco da Gama, emblema onde deixou enormes e saudáveis memórias. Depois, regressou a Beja e conduziu o Desportivo ao escalão secundário nacional. Agora, o Nói partiu rumo à eternidade. Fica, em síntese, um pouco do seu passado pelo cosmos da bola. Descansa em paz e até sempre, Nói Madeira!

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