Diário do Alentejo

Recordando Faustino
Opinião

Recordando Faustino

José Saúde

22 de dezembro 2024 - 08:00

Somos genuínas pingas de orvalho que se diluem num tempo sem termo, cuja data limite de vivência humana se assume como pequeníssimos prazos de validade. Todos carregamos historietas na encruzilhada de vidas, onde a nossa presença deixa inequívocas e altivezes recordações. O desporto é um vendaval de emoções no qual se observa um oceano de prazeres, permanecendo a sua “marinhagem” segura por uma tripulação que navega à proa de um navio que cruza horizontes, mas cujas tempestades acontecem sendo que os mestres, usando a sua hábil experiência, traçam exemplares azimutes que leva a embarcação a porto seguro. E é neste curvar das estações que recorro a exemplos de antigos companheiros da bola que saíram da sua terra natal e encontraram, noutros locais, uma rampa de lançamento que os lançou para altos voos. Faustino Luís Moisão Chora nasceu em Beja no dia 1 de agosto de 1944 e cedo se afirmou no mundo do futebol. Não olhássemos para a baixa estatura, mas sim aos seus dotes futebolísticos. Iniciou-se nos escalões de formação do Desportivo e como sénior logo deu nas vistas. O Barreirense apreciou as suas potencialidades e contratou-o na temporada de 1962/1963. Do Barreiro, terra onde se manteve durante quatro épocas, a Tomar foi um salto, quiçá, gigante, que o transportou para uma carreira de ostentação. Ei-lo, então, por terras do rio Nabão, na época de 1966/1967, envergando as cores do União de Tomar. Vi-o, no Desportivo, como extremo esquerdo, mas a verdade é que em Tomar assumiu-se como defesa central. No União esteve 13 temporadas, sendo seis no campeonato nacional da primeira divisão, assumindo, desde a primeira hora, a titularidade no 11. No seu longo currículo, constata-se que em Tomar foi o jogador com mais presenças em jogos, quer na primeira, quer na segunda divisão nacional, cerca de 400. Nos unionistas partilhou o balneário com jogadores de renome nacional e internacional, dado que, nesses tempos, foram muitos os craques que envergaram a camisola dos nabantinos ou tomarenses, sendo disso exemplo Eusébio, ex-Benfica, um antigo magriço que no campeonato do Mundo, em Inglaterra, ajudou Portugal a conquistar o 3.º lugar. Em final de carreira atuou no Alvaiázere e no Caçadores das Taipas em1983/1984. Antes da sua morte convenci-o a marcar presença num almoço, aquele que foi o primeiro para antigos jogadores de futebol de Beja, e ele, cordialmente, concedeu-me essa honra, dando-me o privilégio de tirarmos juntos uma fotografia, sendo o fotógrafo António Fernandes, mas que ficará guardada no meu espólio para a eternidade. Faustino, foste um dos bons jogadores do Desportivo que me deliciaram com a arte no jogo, mas a vida, que é bela, mas também madrasta, levou-te do mundo dos viventes, depois do nosso reencontro em 2017 e quando tinhas 73 anos. Fica a minha singela recordação ao decifrar o teu admirável sucesso. Recordando Faustino, restando o meu compreensível repto: descansa em paz, amigo!  

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