Não pretendo, tampouco quero, meter a foice em seara alheia, tanto mais que tenho o máximo respeito pelo grupo de homens do desporto que a seguir mencionarei. O problema que abordo neste texto é uma espécie de metafísica que deixa o verídico amante no universo desportivo perplexo. Redijo a narrativa sobre os treinadores de futebol, quer estes desenvolvam o seu trabalho em equipas amadoras, quer em turmas profissionais. Tratam-se, formalmente, de pessoas sérias, trabalhadoras, honestas, estudiosas e que se entregam à causa de forma intensa. Todavia, umas vezes são aplaudidos, colocados no pedestal, outras assobiados, porque, aqui d´rei, o resultado é adverso ao pretendido pelos adeptos. Olho para um tabuleiro de xadrez e logo me ressalta à ideia de que o rei, sempre poderoso, vai mesmo nu. Conhecemos a realidade do futebol há mais de 60 anos. Convivemos com saberes de excelentes treinadores cujo documento de identificação para treinar passava, somente, por impor a sua arte e experiência como antigo jogador. Nesses tempos deram à estampa uma mescla de técnicos que conduziram as equipas a um rol de sucessos. Ao longo dos treinos, e ao som de um estridente apito, quiçá de latão, paravam jogadas, por entenderem erradas, ensinavam aos jogadores como bater a bola, assim como o executar de um passe para o avançado, ou o formato como um defesa tinha de marcar um adversário, ou, ainda, no capítulo dos exercícios físicos semanais. A época iniciava-se sem o “cheiro” da bola, sendo que o plantel era obrigado, a uma semana, a intensas cargas físicas e de correrias que levavam horas. As dificuldades de uma pré-época mexiam com a massa muscular dos jogadores que, às páginas tantas, só pensavam no final da intencionada aventura. Mais tarde, e com a massa muscular já em condições, lá surgia o desejado contacto com a ambicionada bola. Com a época desportiva em absoluto desenvolvimento, o treinador, sábio na matéria, lá impunha as suas ordens. O desporto, contudo, evoluiu de tal forma que presentemente o futebol rege-se por leis que determinam graus de exigência para os treinadores orientarem uma equipa profissional. Existem no plano nacional, em concreto, imposições que obrigam que o treinador para orientar a equipa a, b ou c deverá estar munido com uma carteira profissional adequada à formação que orienta. Resumindo: concordo com tais imposições, mas nem tudo o que brilha é ouro, por isso, discordo com as ameaças que os “donos disto tudo” evocam em defesa do global sistema que sofreu paulatinas modificações. Resta-nos a certeza de que o agridoce desportivo no reino dos incompreendidos, leia-se treinadores, é, nos tempos que decorrem, uma pedra no sapato que deixa mossa nos seus intervenientes.