Este espelho de bolso foi a melhor coisa que eu comprei, dizia o homem sentado na esplanada.
Andei demasiado tempo com a certeza que era dinheiro mal gasto, que não precisava dele para nada, mas cheguei à conclusão que se o tivesse comprado mais cedo, e não falo em dias ou meses, falo em anos, não teria feito as figuras que fiz, nem me teria envolvido em julgamentos apressados, críticas destrutivas, observações ridículas, comentários despropositados.
Descobri, por acaso, em conversa com um amigo, que os espelhos, que cabem no bolso e que se podem levar para qualquer lado, têm poderes mágicos, melhoram bastante as relações entre as pessoas e restituem o respeito.
Quando eu ainda não tinha o espelho, não nos esqueçamos que foi quase uma vida inteira, via uma pessoa e, sozinho com os meus pensamentos ou em comunhão com os meus colegas de esplanada, alicerçado na minha moral, nos meus valores, preconceitos e normas, tratava de fazer uma douta classificação geral e específica da sua maneira de ser, de pensar, de vestir, sobre os seus relacionamentos, o seu feitio, o seu corpo, o seu carro, a sua casa, os seus filhos, o marido, a mulher, o partido, o passado, o presente, o dinheiro, a dúbia fidelidade.
A pessoa passava e eu achava coisas. Mas agora, sempre que me parece que vou achar alguma coisa sobre uma pessoa tiro o espelho do bolso e miro-me. Ao mirar-me acho em mim tudo aquilo que eu ia dizer do outro e por vergonha calo-me. Agora, a pessoa passa e eu meto-me na minha vida. Quanto mais pequena é a mentalidade, mais necessário se torna andar sempre com um espelho no bolso.