Caminhemos pelos longínquos tempos desportivos e recordemos as jornadas futebolísticas domingueiras que passavam pela compra de um pacote de castanhas assadas, adquiridas à dúzia, uma vez que a quantidade compensava.
A composição do embrulho era manuseada com papel de jornais ou com folhas das antigas listas telefónicas. Com as brasas sempre ativas, o homem das castanhas não dava mãos a medir à intensidade dos pedidos solicitados pela irrequieta juventude.
A hora do jogo era, nesses tempos, às três da tarde e ao domingo, sendo que a ânsia de entrada para o interior do recinto passava por uma avassaladora correria dos garotos que, antes, tinham pedido uns tostões à mãe para degustarem aquela preciosidade comestível.
Seguia-se o pormenor em ultrapassar o portão, onde estavam os atentos fiscais da associação, que conduziam os miúdos ao interior do estádio, neste caso pontual cito o municipal de Beja, mas sempre com uma inevitável certeza: caminhar na fila pela mão de um “pai” emprestado. Para trás ficava o homem das castanhas que continuava a faturar.
Os garotos, com o pacote na mão, lá iam saboreando as ditas cujas e assistindo ao jogo da bola que evoluía no interior das quatro linhas. A algazarra do público era ensurdecedora, mas o puto jamais largava o embrulho que, aos poucos, lá ia ficando vazio. De vez em quando surgia uma castanha podre, só que a criança, expedita na sua vivência juvenil, sabia separar o trigo do joio, ou seja, jogar fora a parte onde o bicho fizera mossa e comendo uma outra parte que, com jeito, seria de aproveitar.
Aquelas tardes passadas a assistir a uma tarde de futebol foram notáveis.
O grito do golo, o prazer de nos galantearmos com um jogada de um craque, que fazia furor entre os adeptos, ou a forma como a multidão reagia perante o resultado, resvalava para a alegria quando a vitória sorria à sua equipa, ou às guerrilhas extra futebol quando o seu emblema perdia em campo, partindo os seus apoiantes para irreversíveis quezílias que originavam escaramuças, as quais metiam, de vez em quando, as forças policiais presentes no evento que, no pleno direito de garantir a ordem pública, restabeleciam a normalidade entre os desavindos.
No final do prélio, o homem das castanhas lá se mantinha firme no seu local de trabalho, aproveitando os parcos tostões que porventura sobraram à miudagem que não recusavam a sua compra, embora numa quantidade menor. Recordo as tardes de futebol do antigamente e toda aquela azáfama do homem das castanhas que, puxando com a força dos braços o seu carrinho de duas rodas, lá ia alimentando o seu ego, enquanto os rapazes, persuadidos pelo mundo que os rodeava, agradeciam.