Diário do Alentejo

Até sempre, Veiga Trigo
Opinião

Até sempre, Veiga Trigo

José Saúde

04 de outubro 2024 - 08:00

Morreu o Veiga Trigo. Faleceu, com 73 anos, na passada terça-feira, 1 de outubro de 2024, no Hospital José Joaquim Fernandes, em Beja. As palavras que possamos colocar no texto serão certamente parcas. Veiga Trigo foi um dos melhores árbitros que o futebol português conheceu no século XX. Sólido numa atitude tomada, hirto nas decisões e fazendo do procedimento disciplinar uma das suas armas, o antigo juiz de campo deixou arte vincada no interior dos retângulos de jogos nacionais e internacionais. No momento de ajuizar não olhava a cores clubísticas e nem tão-pouco à personagem que se lhe deparava pela frente. Todos, para ele, enveredavam pelo mesmo diapasão. José Alberto Veiga Trigo nasceu em Beja a 7 de julho de 1951, sendo os seus primeiros passos no universo futebolístico no Desportivo de Beja, como juvenil. A sua passagem pelo então simbólico emblema foi efémera e com 17 anos resolveu experimentar a arbitragem. Mas, existiam, nesses tempos, regulamentos oficiais que impediam os candidatos em frequentarem os cursos com idade inferior aos 21, por isso, o diploma só fora adquirido em consonância com a legalidade vigente. E foi com esse estatuto que durante quatro anos apitou jogos promovidos pela Associação de Futebol de Beja. Dissecando hierarquicamente o seu vasto historial, recuemos no tempo e observemos Veiga Trigo, empregado de mesa no café Cortiço, a apitar jogos entre turmas do liceu de Beja quando o momento o proporcionava. Ao espiar esses amistosos encontros, o saudoso Armando Nascimento, presidente dos árbitros bejenses, viu nele excelentes qualidades e convidou-o para abraçar uma causa, a qual se desenhou de forma exemplar. O serviço militar obrigatório levou-o a uma paragem forçada. Esteve em Angola, mas o bichinho da arbitragem manteve-se inalterável. No regresso à velha Pax Julia, Veiga Trigo retomou o convívio dos homens do apito e na época de 1972/1973 esteve como estagiário na associação, seguindo-se uma carreira inolvidável. Na temporada de 1973/1974 foi árbitro da 2.ª categoria regional; em 1975/1976 subiu à primeira; em 1977/1978 rumou à 3.ª categoria nacional; em 1978/1979, 2.ª categoria; em 1979/1980, 1.ª divisão nacional, e, na temporada de 1985/1986, a internacional, mantendo-se no ativo até 1995. Para memória futura, socorremo-nos do seu vasto currículo e este diz-nos que foi num jogo que opôs as seleções de Espanha e Malta que o categorizado árbitro se estreou com as insígnias ao peito da UEFA, depois da FIFA, fechando o ciclo além-fronteiras no Luxemburgo, num desafio entre o Averir Beggen e o Orebro Sport Club, da Suécia. Intramuros observamos a presença em duas finais da Taça de Portugal, a primeira entre o Boavista e o FC Porto e uma outra que colocou frente a frente o Benfica e o Boavista. Arnaldo Aguiar, Manuel Burrica, Teixeira Correia, João Crujo, Luís Lameira, Joaquim Madeira e Francisco Pardal foram alguns dos condiscípulos que acompanharam Veiga Trigo como fiscais de linha, agora árbitros auxiliares. O autor deste texto, Veiga Trigo e João Caixinha foram os promotores da realização dos últimos dois encontros de antigos jogadores de futebol de Beja. Descansa em paz, amigo. Até sempre, Veiga Trigo!

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