Um dos primeiros sinais de envelhecimento manifesta-se no dia em que começamos a levar cadeiras para a praia. Há uma fase da nossa vida em que isso é inconcebível, vergonhoso até.
Quando ainda não temos barriga e os cabelos ainda não acinzentaram, não nos passa pela cabeça cruzar o areal com tal artefacto nas mãos. Se a relutância em levar chapéu-de-sol normalmente termina mais cedo, a resistência em relação ao transporte da cadeira de praia arrasta-se por muito mais tempo. A cadeira de praia é símbolo de um declínio do corpo e da mente, as cadeiras de praia são o oposto das raquetes, dos jogos de vólei, dos mergulhos, das corridas à beira mar.
Quando somos novos olhamos para as cadeiras como se fossem tronos da decadência, do cansaço, do reumatismo, sentados nelas só víamos avós e tios velhotes, pais barrigudos a lerem o jornal, mães com celulite a distribuírem sandes de fiambre e pêssegos descascados.
Quando se fazem cabanas com os chapéus-de-sol e se preenche toda a sombra com as cadeiras de praia, então está tudo perdido. É o fim dos corpos bronzeados, é a morte da estética do corpo, é o esmorecer da líbido, é a impossibilidade de algo sensual acontecer.
A cadeira de praia mata o tempo em que se levava apenas uma toalha para passar um dia inteiro no areal, a cadeira de praia inaugura o tempo em que o corpo requer um tratamento mais consentâneo com lombalgias, artroses, ácido úrico e outras dores generalizadas. Já há alguns anos que levo a minha cadeira, confesso que não passo sem ela e este ano já passei a um outro nível: uma cadeira com apoio de braços.