A luz é baça e a espera também.
Na parede, os ponteiros do relógio levam o tempo às costas. Tão devagar. Na sala de espera, o silêncio rói as unhas. As profundezas do hospital engoliram os familiares. Uma sala de espera é um velório de esperança e na esperança também há triagem.
Há quem fique com mais e traga no sorriso uma fita azul da cor do céu. Há quem fique com menos e tenha uma fita vermelha a apertar o coração. Quando se abre a porta as cabeças rodam como molas de ossos e pele, os olhos acendem-se e os corações aceleram.
Uma bata branca passa, mas nem olha, muito menos diz alguma coisa.
E as bocas suspiram, os dedos passam pelo cabelo, a testa tomba para as mãos, os olhos empurram os ponteiros noite acima. Algumas pessoas trocam silêncios, moem-se com os seus pensamentos. Outras pessoas falam, descarregam palavras como barragens demasiado cheias.
E as palavras são moscas tontas, cegas, batendo nas paredes, no vidro do relógio, nas janelas, na falta de paciência.
Falam e procuram os olhos de alguém que lhes sustente o discurso para parecer um diálogo. Os familiares dos das fitas azuis, verdes e alguns das amarelas ainda lhes respondem ou acenam a cabeça para acenar que sim ou que não.
Os que trazem fitas laranjas urgentes no peito e os que trazem fitas vermelhas emergentes no coração ficam imóveis, calados, encostados a si. As vozes são arame farpado a enrolar-se nos ouvidos, na garganta, no peito, no coração dos que desesperam. Lentamente, o relógio vai vencendo a noite e a sala vai ficando deserta. Lá fora, os bombeiros fumam cigarros e esperam que a dor os chame.