A espera é desconfortável, a espera agudiza os nervos e perturba o raciocínio. A espera é feita de emoções e como sabemos as emoções não são boas conselheiras, não respeitam a cadência do tempo, nem têm paciência para entender a parte que decide, seja ela um relógio, a idade, a natureza das coisas ou uma pessoa. Há esperas que são naturais: poder sair à noite, beijar pela primeira vez, tirar a carta de condução, ter um carro, ter independência financeira. Estas esperas são desagradáveis e demoram, mas dado que são comuns a todas as pessoas não são razão para um completo desassossego. Sabemos que, por norma, será uma questão de tempo até tudo acontecer. Há esperas que são bichos ansiosos a arruinarem o estômago até que saiam os resultados de uma prova, de uma prestação de capacidades e conhecimentos, até que outros, com a sua avaliação, definam a nossa vida e promovam a construção ou provoquem a destruição de um objetivo ou de um sonho. Estas esperas são desagradáveis e muito intensas, mas ainda assim não são razão para uma profunda inquietação. Há esperas que não são naturais, são resultado de um choque repentino que veio alterar a perceção da vida e a dimensão de um ser humano. Estas esperas são terríveis porque são esmagadoras e injustas e são sempre razão para um grande desespero. Todas as esperas são desconfortáveis, mas há umas que requerem uma capacidade de resiliência maior do que outras. E é nesse tempo dolorosamente cheio de vazio, de aflição e de medo, é nesse tempo amargo da espera que as pessoas de coragem se revelam.