Diário do Alentejo

Morreu  o Zé Baiôa
Opinião

Morreu o Zé Baiôa

José Saúde, jornalista

12 de julho 2024 - 08:00

A sua pequena estatura não inviabilizou a qualidade futebolística nas décadas de 1950, 1960 e 1970. Drible curto, velocidade e golo. Um triângulo que foi sinónimo de vedeta. Cito José Alves Godinho Baiôa, que nasceu em Mértola no dia 13 de setembro de 1940 e faleceu no passado 4 de julho, no hospital de Beja. Na sua terra, localidade situada junto à margem direita do rio Guadiana, Baiôa iniciou-se num grupo denominado Juventude, sendo o propósito disputar jogos com equipas de freguesias vizinhas, mas cedo deu nas vistas. Na época de 1958/1959 recebeu dois convites para jogar oficialmente: um do Lusitano de Vila Real de Santo António; outro do Desportivo de Beja. Francisco Barbosa e António Teixeira, dirigentes do grémio bejense, foram os homens que estiveram na origem da sua aquisição. Nesse tempo o Desportivo jogava na segunda divisão nacional e tinha uma equipa onde proliferavam figuras da proa. Zezé, Alves, Perdigão, Apolinário, Meira, Marcelino, Madaleno, Antonete, de entre outros, são alguns dos nomes desse “exército” de ases. Di Paola, Manuel Trincalhetas e Telexea foram os treinadores que primaram pela sua evolução. Na capela onde guardava esmeradas recordações, evocava um jogo no estádio da Luz a contar para uma eliminatória da taça de Portugal frente ao Benfica. “Nesse dia estava endiabrado. Meti os cabelos do Mário João em pé e fiz um golo ao Costa Pereira”. O momento áureo levou o Sporting da Covilhã, Atlético e o Barreirense a endossarem-lhe propostas de trabalho. Mas quando nada o fazia prever, Baiôa, confirmado então como reforço da agremiação de Alcântara, pensou em desertar da tropa. E fê-lo. Do quartel de Queluz ao Forte de Elvas foi um passo. Na temporada de 1964/1965 regressou ao Desportivo. Desses tempos recorde-se um 11: Alves, Barbas, Perdigão, Hélder Lino, Manel Baião, Baiôa, Nói Madeira, Fernandes, Dionísio, Madaleno e Faustino. Seguiu-se Moura, temporada de 1970/1971, como jogador/treinador e, por fim, o Guadiana de Mértola. Baiôa era um contador de histórias perfeito. Um homem de negócios. Vendia roupa e relógios. Um dia, no balneário do Desportivo, encomendámos-lhe peúgas e outras peças de vestuário vindas do Egito, sinalizando, de pronto, o material negociado. Só que a encomenda não havia meio de chegar e um dia perguntámos qual a razão da demora. Resposta pronta: “Malta, o barco que transportava o carregamento ficou aprendido no Canal Suez”. Num jogo em Évora, quando Suarez era o nosso mister, defrontámos o Juventude e houve um lance em que eu, lateral direito, ia dividir a bola com o adversário, mas o Baiôa, extremo direito, antecipou-se e no choque com o opositor partiu um pé. No regresso a Beja fomos dar os parabéns ao nosso companheiro João Caixinha que tinha casado nesse dia e dedicar-lhe a vitória (1-0). A boda teve lugar na quinta do Visconde, Boavista, e o Baiôa, mesmo coxo, “desviou” um peru assado da “mesa real” e lá o fez transportar debaixo da sua habitual gabardina branca, mas com a promessa que a ave seria comida após o treino da próxima terça-feira. O dito cujo não apareceu, desfazendo-se o Baiôa em invulgares desculpas. Coisas da bola e de um amigo que jamais será esquecido! Zé Baiôa, descansa em paz!

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