O mundo é feito de paradoxos e simultaneamente vacilante de notícias cujos rótulos nos remetem para uma profunda reflexão: uns de gáudio, outros de tristeza. O futebol e o fado sempre andaram de mãos dadas. A palavra fado surge do latim e significa destino. Nele encontra-se uma variedade de infindas emoções, tais como: amor e desamor, desgraças, nostalgia e saudade. O fado é um estilo musical que, segundo os entendidos na causa, teve a sua origem em Lisboa, urbe na qual nomes sonantes de fadistas tiveram o privilégio de pisarem a passarela vermelha que os guiou ao palco da fama. O fado, mesmo cantado por amadores, era tido como marialva, mas encantou tanto reis como plebeus. Conheci a veracidade do futebol e do fado aquando na minha adolescência vivi em Lisboa e joguei futebol, nas camadas jovens, do Sporting Clube de Portugal. Bairro Alto e Alfama assumiam-se como bairros que visitava, onde espreitava casas de fado e ouvia vozes maravilhosas, sendo que por lá também passavam verdadeiros craques da bola de clubes portugueses com uma dimensão maior neste território lusíada. Por isso, nunca reneguei o meu gosto profícuo pelo fado e pelo futebol. Morreu a fadista Ana das Dores Silva Rato, vulgo Ana Rato, nascida em Moçambique, mas assumindo-se como bejense e com alma alentejana. Em 1993 venceu a Grande Noite do Fado de Lisboa, tendo surgido convites que lhe proporcionavam atingir um brilho maior no mundo artístico, nomeadamente, por parte de Francisco Nicholson, sendo que a finalidade do conhecido autor passava por ela, Ana Rato, se estrear no teatro de revista. Ana Rato, porém, recusou e fez de Beja a sua cidade de adoção. Na Pax Julia espalhou talento que a levou a viajar por outras paragens, mas eis que uma doença prolongada ditou, aos 58 anos, o fim da sua jornada humana. Ana Rato era casada com José António dos Santos Condeça, um antigo jogador de futebol que se estreou no Desportivo de Beja, na época 1978/1979 – rumou ao Torralta, quando o clube algarvio apostou forte na formação tendo, então, como principal responsável o saudoso Palma, um jogador que passou pelo Sport Lisboa e Benfica –, nos escalões jovens, estreando-se como sénior no Desportivo quando a coletividade bejense disputava o campeonato da II Divisão Nacional. Atuou, posteriormente, no Atlético de Moura, FC Serpa, Sporting Ferreirense, FC Castrense, terminando a sua longa carreira ao serviço do Cabeça Gorda na temporada de 1994/1995. O Zé Condeça, como vulgarmente é conhecido, tem um currículo futebolístico deveras interessante, ingressando, depois, no universo do trabalho como agente da PSP. E é com esta cumplicidade que respeitosamente adereça o futebol e o fado que termino este texto implorando: paz à tua alma, Ana Rato!